quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Poupar lenha. 041009

(Publicada na Grande Reportagem em 9 de Outubro de 2004)


Ouvi, há algumas décadas, numa aldeia da Beira Alta, um velho adágio que diz «quem não poupa sal, água e lenha, não poupa nada que tenha». O saber dos antigos assentava na experiência de muitas gerações e o tempo não o destrói, apesar da evolução das modernas tecnologias.

Com efeito, é notório que o sal considerado uma preciosidade por muitas sociedades afastadas do mar, continua a ser imprescindível apesar de os cardiologistas aconselharem parcimónia no seu consumo e já não ser fundamental na conserva das carnes (na salgadeira).

Por seu lado, a água está a tornar-se uma raridade, sendo difícil obtê-la em boas condições de potabilidade, tal é o estado de poluição dos lençóis freáticos. Há quem garanta que, neste século, muitas situações de crise internacional serão devidas à água e à gestão dos rios internacionais. A água, como factor de crise, substituirá o petróleo, gerador de conflitos no século passado.

Quanto à lenha, isto é, à energia, estamos actualmente no dealbar de uma revolução que se traduz na necessidade e encontrar, o mais rapidamente possível, de alternativas para o petróleo, cujas reservas se encontram em vias de esgotamento. Isto não será rápido nem fácil. As denominadas «energias renováveis» existem disseminadas por todo o mundo, mas muito dispersas e de difícil exploração. Haverá um longo caminho a percorrer para serem utilizadas de forma a serem mantidos os actuais hábitos de consumo.

Dado que o petróleo, recurso natural finito, ameaça esgotar-se num futuro relativamente próximo, e como as energias renováveis demorarão a atingir um grau aceitável de operacionalidade e dependerão da vontade política dos poderosos, haverá que reduzir o seu consumo. «Poupar lenha» é uma medida sensata e imperiosa a adoptar por cada um de nós. Para isso, o simples cidadão poderá começar pelo uso mais racional dos meios de transporte. Passar a utilizar o carro apenas quando houver que transportar várias pessoas, ou cargas pesadas, ou utilizar percursos mal servidos de transportes colectivos. Quando assim não seja, deverá utilizar-se o transporte colectivo. Utilizando-os, além da poupança de energia, faz-se a viagem mais descontraído, sem a tensão permanente da condução, com possibilidade de ler, de conversar ou de fazer contactos telefónicos. Muitas pessoas já introduziram esta opção nos seus hábitos quotidianos. Devemos imitá-las, na medida em que isso seja possível. É que, se assim não for, estaremos a contribuir para que os nossos netos tenham de enfrentar situações tão graves que nem as podemos imaginar. Com efeito, a crise energética está à porta e torna urgente uma profunda revolução nos nossos actuais estilos de vida.

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