(Enviada aos jornais em 6 de Fevereiro de 2005)
Sempre lamentei que muitas pessoas, irracionalmente, usem o automóvel como arma que mata os próprios, os familiares e terceiros inocentes. Apesar de muitos exemplos de tragédias lamentáveis e evitáveis e de repetidos conselhos de prudência, há inconscientes e incompetentes a reincidirem nas estradas e a arrastarem inúmeras famílias para a desgraça.
Há tipos de acidente que podem acontecer ao mais cuidadoso, mas há outros que são difíceis de justificar e perdoar. Dizem que as estradas têm muita culpa, mas a verdade é que os acidentes mais graves ocorrem nas melhores estradas, e não nas vias estreitas e sinuosas de outros tempos.
Ao escrever estas linhas, estou sob o efeito traumático das notícias de dois acidentes muito graves em que o excesso de velocidade foi, sem dúvida, a causa principal. Um despiste no IP4 em que morreram cinco jovens que, certamente, alimentavam grandes sonhos de futuro promissor; outro despiste na auto estrada perto de Famalicão em que se despenhou uma carrinha de um viaduto de quarenta metros de altura matando três e ferindo outros três.
As velocidades recomendadas e adequadamente sinalizadas poderão ser consideradas exageradamente baixas para certas pessoas, mas obedecem a critérios de segurança que devem ser respeitados. Porém, há muitos condutores que se consideram ases do volante e apenas têm como limite o máximo que o carro pode dar. É um erro crasso. Diz a realidade que passar dos 200 não é virtude ou competência do condutor, mas apenas depende do motor e da mecânica do carro. O valor do condutor reside em fazer a viagem com segurança e comodidade para os passageiros e economia de combustível e do carro. É fundamental que, em cada momento, se sinta que o carro está sob completo controlo do condutor e capaz de parar no espaço livre visível. Sem esse cuidado, correm-se riscos desnecessários e muito perigosos.
Será bom que os condutores não se considerem tão bons como o piloto Michael Shumaker. Este chega a passar dos 300 em rectas da pista em que, obviamente, não há trânsito de incompetentes, mas abranda para os 40 ou menos quando aborda curvas em que é perigoso ir mais depressa. E mesmo em pistas especiais e em carros altamente seguros, pilotos muito competentes sofrem acidentes porque, em competição, têm de rodar nos limites da segurança. Fixe-se bem que as velocidades por eles utilizadas não são para nós imitarmos com os nossos carros, nas nossas estradas.
Houve no Automóvel Clube uma época em que se dizia que os acidentes se deviam ao facto de o parque automóvel estar muito envelhecido; depois já se dizia que a causa estava nos carros pouco potentes. Bobagem. Hoje verifica-se que os acidentes mais graves e frequentes são provocados por carros potentes e novos. A culpa continua a não ser dos carros, novos ou usados, mas de quem os conduz, daqueles que sem terem mãos para os segurar, querem experimentar toda a potência do motor, o que se torna mais arriscado com os melhores modelos.
Pergunta-se como se irão modificar os comportamentos. Na Inglaterra certas infracções são punidas com a apreensão e destruição do carro que se destinará a matéria prima de siderurgia. Nós continuamos com a apreensão de carta, o que não impede que continuem a conduzir. Também se apreendem carros que ficam sob custódia dos proprietários, os quais não se inibem de continuar a utilizá-los. Para quando, as penalizações exemplares que dissuadam os infractores de reincidirem? Para quando uma atitude judicial rápida e eficaz que sirva de estímulo aos agentes da autoridade que detectam infracções graves de que as notícias dão prova quase diariamente? Será que tudo vai continuar na mesma, com tanta perda de vidas e tantas vidas estragadas, lançadas para a dependência da comunidade, isto é, com perspectivas de um futuro miserável?
Foi sem querer!
Há 3 horas
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