sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Políticos, espécie em vias de extinção? 050207

(Publicada em A Capital em 7 de Fevereiro de 2005)

É sempre tranquilizante saber-se que já há muita gente sensibilizada para a necessidade da biodiversidade no Planeta e a apelar para a implementação de medidas de protecção às espécies em risco de extinção. Recentemente, este tema ocupou algum espaço nos jornais a propósito da Conferência Internacional sobre Biodiversidade, Ciências e Governabilidade, na sede da UNESCO em Paris.

Recordei agora este assunto porque estou seriamente preocupado com a ameaça de extinção que paira sobre os políticos portugueses. Claro que parece que não se trata de crise recente, pois já o Eça diria coisa semelhante na sua inigualável arte de manusear a pena. Mas, presentemente, o abstencionismo tem vindo a agravar-se ameaçando tornar-se uma doença crónica da nossa comunidade, e demonstrando bem o conceito pouco positivo em que os eleitores inserem os méritos dos políticos.

E, além de se constatar essa abstenção, convém analisar cuidadosamente a sua causa, a fim de, perante o diagnóstico, serem procurados os meios de cura a aplicar. Não me atrevo a essa análise, mas, mesmo à superfície do problema, choca-me a autofagia (homofagia ou antropofagia corporativa) em que se refastelam os políticos. Os insultos mútuos, as apelidações de caudilho, cacique, neo-nazista, as calúnias, os boatos, as alusões aos colos preferidos, as insinuações de que uns têm filhos e outros não geraram vidas, são tácticas de quem nada de positivo tem para mostrar aos eleitores e eliminam qualquer vestígio de respeito que ainda pudesse existir no espírito das pessoas cujo voto pretendem conquistar. Ocupando o «tempo de antena» a procurar denegrir a imagem dos concorrentes, mesmo que não sejam verdadeiros rivais, todos perdem prestígio perante os olhos mais ou menos atentos dos eleitores que prefeririam vê-los e ouvi-los a apresentarem metas realistas para a resolução dos principais problemas do país. Certamente, ninguém se sente aliciado a votar num partido só pelo facto de o seu líder ser o que diz pior dos «colegas de profissão» de outros partidos ou dos discordantes do seu próprio clã. O eleitor procurará ver, na medida em que isso lhe for possível, qual o líder que evidencia maior capacidade para traçar projectos e realizá-los, nos sectores do ensino (de que resultará a maior produtividade), da saúde (necessária para maior felicidade dos portugueses e menor absentismo nas empresas), da segurança (indispensável para o conforto e bem-estar das pessoas e para ao normal desempenho das suas actividades), da justiça (que deve ser rápida e eficaz para a boa convivência cívica), do ambiente (que está nas causas profundas das alterações climáticas e das catástrofes naturais), dos impostos (para haver justiça e moralidade na participação dos cidadãos nas despesas do Estado), do apoio aos idosos (que merecem viver bem os últimos anos de vida, e a que todos chegaremos), etc, etc.

Se os políticos continuarem a justificar a indiferença do eleitorado, teremos razão para temer que sejam uma espécie em vias de extinção, e os portugueses que têm valor e capacidade para gerir os destinos do país não estarão disponíveis para irem desempenhar funções tão mal apreciadas pelo povo.

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