quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Um líder vitalício. 021214

(Publicado no «Expresso», 14 de Dezembro de 2002)

Seja-me permitido, em vésperas da «greve geral», manifestar o meu espanto relativamente às presenças nas televisões de um Sr. Silva, vitaliciamente auto-eleito como representante dos trabalhadores.

Há muitos anos que o ouço, sempre com atenção e agrado, porque constitui um espectáculo a não perder.

Primeiro, embora não compreenda, acho piada que em democracia um indivíduo se mantenha tanto tempo em tais funções. Será que está à espera de cair de uma cadeira, como Salazar? Ou a morrer no seu posto como Hafez Al Assad da Síria ou a ser apeado como Mobutu ou como Kabila do ex-Zaire? Mas esses não falavam de democracia!

Por outro lado, nunca vi o vitalício Silva na TV a defender pela positiva os trabalhadores, ajudando-os a lutar para que as suas empresas continuem a ter êxito para manterem os seus postos de trabalho, estimulando-os para a formação profissional a fim de merecerem melhores salários, etc.. Antes pelo contrário, o seu discurso é totalmente pela negativa, visando destruir as autoridades políticas democraticamente escolhidas pelo povo (e que não são vitalícias como o Sr. Silva).

Na sua última aparição na TV antes da «greve geral», foi-lhe perguntado qual o sinal de a greve ser um êxito ou um fracasso. Hesitou, gaguejou, falou sem dizer nada e, perante a insistência do locutor, disse que a greve já era (na véspera!) um êxito. Fiquei identificado com a «seriedade» do vitalício Silva. Aliás, um vitalício não precisa de ser inteligente, sério e honesto. Só que não compreendo que em democracia, haja vitalícios. Gostaria de entender.

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