(Publicada no 24 Horas em 2 de Setembro de 2005)
Os motoristas de «altas» entidades públicas merecem ser alertados para o perigo a que são expostos pelos seus «patrões». Basta olhar para a primeira página de um jornal diário de 30 de Agosto para concluir que, apesar de serem instigados a infringir o Código da Estrada por a entidade ter saído tarde mas querer chegar a horas, se houver qualquer acidente ou incidente por excesso de velocidade, aquela atribui a responsabilidade exclusivamente ao motorista.
Já há mais de duas dezenas de anos, o então primeiro-ministro, ao receber em Sacavém os batedores da GNR disse-lhes que ia com pressa e tinha de estar em Aveiro às x horas, que era 30 minutos depois! Dessa vez, não houve acidente nem incidente. Agora, foi a vez do juiz conselheiro do Tribunal Constitucional, Artur Maurício dizer coisa parecida ao seu motorista, o qual, inocentemente e com vontade de ser prestável e colaborante com o seu «patrão», carregou no acelerador e foi caçado a 200 Km/h. O juiz, que por profissão é hábil no uso das palavras e na interpretação da responsabilidade, sacudiu a água do capote, considerando-se inocente de qualquer culpa. Que grande exemplo de moralidade! Que grande lição para os motoristas em geral! A partir de agora, não se esqueçam: a pressa não é vossa; é do «patrão». Nunca excedam a velocidade nem infrinjam o Código, porque depois, se for a doer, serão vocês a sofrer. Se o «patrão» insistir em aumentar a velocidade por ter pressa, recusem obedecer e convidem-no a ser ele a conduzir e vocês irem no banco ao lado.
Quando fui militar no activo, o passageiro mais graduado na viatura – chefe de viatura – era responsável por qualquer excesso de velocidade, entre outras coisas. Isso passava-se naquela escola de virtudes que dá pelo nome de Exército, mas o juiz rege-se por outros valores, aqueles que são comuns a grande parte dos homens do Direito, que alguém considera o maior mal do País, com a agravante de a maior parte dos políticos beberem da mesma água.
E assim vai o País real. Quando o mar bate na rocha, quem se trama é o mexilhão. Por isso alerto: abram os olhos motoristas e outros servidores de «altas» entidades. Mantenham-se na legalidade.
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