sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Sudão e ausência de autoridade internacional

(Texto de apoio a um trabalho universitário)

O Sudão é o país africano de maior extensão, com uma composição étnica extremamente complexa – 252 grupos étnicos – e várias religiões em que predominam os muçulmanos sunitas, a Norte, seguidos dos ligados a crenças tradicionais africanas e dos cristãos, a Sul. Estas características humanas, a sua posição geoestratégica e a exploração de petróleo, recentemente iniciada, têm sido factores de uma história acentuadamente conflituosa. Ocupado por egípcios, turcos e britânicos e desejado pelos franceses, acabou por ver proclamada a independência em 1955.

Desde os primeiros dias de Estado independente, não houve uma paz verdadeira devido à luta pelo poder, entre várias facções islâmicas e ao desejo de estas oprimirem os povos do Sul. Desde 1983 está em curso uma rebelião dos povos do Sul, de maioria cristã, contra o regime muçulmano de Cartum. É a guerrilha mais antiga de África que tem continuado, apesar de muitas tentativas de apaziguamento, aconselhadas e mediadas por países ocidentais e africanos. Os combates já fizeram mais de um milhão de mortos.

Após o golpe militar apoiado pela Frente Islâmica Internacional, em 1989, a insegurança passou a ser permanente, com um medo doentio em cada coração. Por pressão daquela Frente Islâmica, foi dado asilo em mansões luxuosas, nos arredores da Capital, a proscritos como Osama bin Laden e a Carlos o Chacal. O poder foi partilhado, de forma informal, pelo Presidente general Omar al-Bashir e por Hassan Turabi, o pai intelectual do movimento islamista do Sudão, antes de este ser colocado em prisão domiciliária.

Em 2002, os rebeldes do SPLA (Exército de Libertação do Povo do Sudão) - que lutavam há 20 anos contra a opressão do Governo no Sul do país - pressionados pelo Ocidente a terminar com a guerra civil, assinaram um frágil cessar-fogo, de curto efeito. Apoiando várias iniciativas para o apaziguamento do Sudão, o Secretário de Estado norte-americano Colin Powell deslocou-se, em Outubro de 2003, ao Quénia para reabilitar as relações com Cartum e dar um impulso às negociações de paz que ali decorriam entre o Governo e os rebeldes do Sul chefiadas pelo Coronel John Garang. C Powell manifestou esperança de a assinatura de um tratado de paz se efectuar em Dezembro seguinte, mas a esperança foi gorada. Outras tentativas posteriores tiveram resultado semelhante. Quando foram assinados acordos, pouco demorou até serem desrespeitados.

Entretanto, agravou-se a situação na província de Darfur, antigo sultanato cuja independência foi esmagada, em 1916, por uma expedição britânica, na zona ocidental, vizinha do Chade. A população, que pretende a autonomia, tem sido bombardeada pelos aviões governamentais, o que levou à fuga de centenas de milhar, para lugares onde a falta de água e de outras condições de vida tornam difícil a sobrevivência, sendo mesmo difícil a chegada de socorros de organismos internacionais. As forças islâmicas governamentais apoiam milícias árabes que praticam as piores violências sobre o povo, embora o governo de Osmar al-Bashir desminta. Em Agosto de 2004, foi assinado entre o Governo sudanês e as Nações Unidas, para o Darfur, um acordo contendo sete pontos, mas que ficou letra morta.

Tanto a ONU, como a União Africana, como a UE (União Europeia), como as grandes potências, têm mostrado vontade de ver restabelecida a paz neste grande país, mas não têm ido além da boa vontade e as pessoas continuam a sofrer privações inclusive da própria vida. Interrogamo-nos até quando o mundo, os poderes internacionais se manterão impotentes para pôr termo ao genocídio levado a cabo pelo poder islâmico do Sudão nas partes Sul e Oeste, onde vivem populações que não são muçulmanas. Os títulos da imprensa, embora pouco frequentes, são bem elucidativos do pouco interesse que o mundo tem pelo continente africano e das táctica dilatórias do Governo de Cartum, com desprezo de tudo e de todos.

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