sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Eleições vistas do estrangeiro. 050223

(Publicada no Público, em 23 de Fevereiro de 2005)

Imaginem a desfaçatez de uns bosquímanos, dos matos esparsos do Botswana, armados em intelectualóides de meia tigela, referirem-se ao resultado das eleições legislativas portuguesas em termos despropositados. Como o resultado não lhes agradou, apelidaram da pior maneira os portugueses que votaram no vencedor com a convicção de que ele defenderá os interesses do país e lhes garantirá melhores condições de bem-estar, conforto, segurança e auto-estima.

Como português, e não interessa o partido em que votei, acho ridículo que esses bosquímanos se intrometam nas nossas decisões democráticas. Eles que pouco saberão de regras da democracia representativa! Desde quando eles conhecem, na prática, a democracia? «Democracia», palavra de origem grega, significa influência do povo na governação pública; o consentimento dos governados é o fundamento da legitimidade dos poderes constituídos e, na democracia representativa, eles participam no exercício do poder escolhendo, por meio de eleições livres, os seus governantes. Assim, nós temos o direito de votar, de acordo com aquilo que entendemos ser os interesses do nosso país, os nossos interesses e as nossas convicções pessoais, sem termos de previamente pedir a opinião ou o conselho de qualquer bosquímano por mais importante e erudito que ele se julgue e sem, posteriormente termos de lhe dar qualquer justificação da «burrice» que tenhamos feito. Nada nos interessa, neste campo, a opinião de qualquer bosquímano ou abexim.

Esta alegoria faz lembrar as posições de alguns autóctones (aborígenes, indígenas, naturais ou nativos, ver dicionário) portugueses, que se entendem ser intelectuais democratas, ao desaprovarem, de forma contundente, a decisão de cientistas, prémios Nobel, técnicos altamente especializados, grandes empresários, artistas, escritores, etc. americanos elegerem George W Bush para o seu segundo mandato. Ah, bosquímanos, tenham a noção da vossa insignificância internacional e comecem por gerir bem os destinos do vosso pobre e atrasado país. «Cresçam e apareçam»!

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