quinta-feira, 13 de agosto de 2009

A selva rodoviária. 030608

(Publicada no «Público»,8 de Junho de 2003)

O campeão mundial de Fórmula um seria capaz de ir de Lisboa ao Porto em pouco mais de uma hora. Mas exigiria a auto-estrada totalmente interdita ao trânsito, «rails» de protecção, escapatórias, «boxes» em dois ou três pontos do percurso, para reabastecer, mudar de pneus e efectuar pequenas afinações e reparações. Isto mostra que a velocidade não é coisa fácil; exige condições especiais.

Porém, recentemente, os jornais deram notícias de um «responsável» por escolas de condução e um notado político terem sido detectados a circular a velocidade excessiva e argumentarem que iam com segurança, porque os respectivos carros eram potentes e seguros. E diziam que a velocidade deve ser ilimitada, dependendo apenas das condições do carro!

Se as autoridades fiscalizadoras e judiciais se deixarem convencer por estes argumentos, teremos a lei do mais forte, isto é, a lei da selva. E, numa comunidade selvagem, tudo é possível. Recorde-se o caso do director de um instituto superior de educação, perto de Sines, que, num curto intervalo de tempo, atropelou e matou dois peões na mesma passagem de peões. Certamente que o seu carro era potente e seguro!!

E, embora seja costume dizer mal dos jovens «estouvados e irresponsáveis», os actores dos casos citados são mais do que quarentões.

Impõe-se uma fiscalização mais apertada dos excessos de velocidade e uma mão mais pesada na aplicação das penas. Ou não seremos um Estado de Direito?

E aquela ideia de aplicar sanções com base na velocidade média nas auto-estradas, entre a entrada e a saída, porque não está a ser aplicada? É certo que essa solução não impediria que um «Fângio» rodasse a mais de 200 à hora e parasse numa área de serviço a fazer horas, bebendo uns wisquies (sim, porque tais loucos do volante não ficam pela cerveja sem álcool). Mas talvez se habituassem a rolar mais lentamente, sem necessidade de queimar tempo a meio da viagem!

E que fazer àqueles que, pela sua posição profissional e social deveriam servir de exemplo, mas que emitem opiniões nitidamente anti-sociais e anti-legais?

Deixo estas reflexões à consideração das entidades fiscalizadoras e aos poderes judicial, executivo e legislativo, com vista a evitar a selva rodoviária, cuja intervenção necessita ser adaptada às novas realidades.

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