quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Direitos humanos de quem? . 030610

(Publicada no «Diário de Notícias», 10 de Junho de 2003)

A vida é um «puzzle» de imensas peças. Por vezes, surge uma peça de tal modo sugestiva que permite juntar muitas outras que aguardavam oportunidade para integração no conjunto.

A reunião do G-8 em Évian, apesar das rigorosas medidas de segurança, ocasionou graves incidentes em cidades vizinhas. Pessoas que viram completamente destruídos os seus carros estacionados na rua, comerciantes que ficaram com as montras destruídas, etc. Perante estes desacatos, a polícia pressionada pelo respeito pelos direitos humanos e para evitar umas nódoas negras nos desordeiros permitiu esses estragos em inteiro desrespeito pelos legítimos direitos dos cidadãos trabalhadores e ordeiros.

Quando estava a meditar nisto, ouvi a notícia da absolvição de um indivíduo de Mirandela que bateu num polícia, rasgando-lhe o uniforme e ferindo-o a ponto de ter de receber tratamento no hospital e perder dias de trabalho. Também, no caso da Casa Pia, houve várias manifestações e declarações públicas em defesa dos presumidos suspeitos, mas foram quase inexistentes os apoios às vítimas destes horrendos actos. Interrogo-me que interpretações foram dadas aos direitos humanos nestes casos?

Recordo-me que, quando se discutia a entrada da China para a OMC (Organização Mundial do Comércio) apontava-se em seu detrimento o não acatamento dos direitos humanos naquele grande país. Curiosamente, um diplomata chinês disse que a China respeita os direitos humanos mas tem deles um significado diferente do seguido pelo Ocidente. Enquanto os Ocidentais defendem o desordeiro, o infractor, o criminoso e abandonam a vítima, os Chineses, pelo contrário, defendem as pessoas de bem, os trabalhadores, os ordeiros, os cumpridores e penalizam os desordeiros por forma a que não prejudiquem quem sabe comportar-se de forma correcta para viver em sociedade. As pessoas têm o direito de viver em segurança, sem a ameaça constante de malfeitores. Proteger o criminoso é estimular a insegurança da generalidade dos seres humanos.

A sabedoria chinesa traz-nos frequentemente estes surpreendentes rebuçados. Continuamos a ter muito que aprender com a sua experiência milenar. E seremos capazes de aprender? Afinal, devem ser defendidos os direitos humanos de quem?

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