sábado, 15 de agosto de 2009

Portugal, grande potência? 051129

(Publicada no Diabo em 29 de Novembro de 2005)

Uma pessoa, vinda do espaço e a quem fosse distribuída apenas informação criteriosamente seleccionada, ficaria convencida de que Portugal é uma grande potência, talvez a maior do planeta. Realmente, em poucos anos, originou notícias que levam a essa conclusão: Centro Cultural de Belém, ponte Vasco da Gama, barragem de Alqueva, auto-estradas a servir todo o País (fazendo inveja à Noruega e outros Estados amigos), Expo 98 com todos os investimentos nela inseridos, Casa da Música, vários estádios de futebol para o Euro 2004, os vencimentos dos administradores do Banco de Portugal e dos juizes com regalias acessórias, a árvore de Natal de 2004 mais alta da Europa, seguida da de 2005 com mais dois metros de cota máxima, com volumoso equipamento eléctrico e electrónico e elevado consumo de energia, etc.

Perante isto, não há que duvidar: somos uma grande potência global. Mas esse extraterrestre ficaria incrédulo quando viesse a conhecer o valor do salário mínimo nacional e do salário médio, principalmente se comparados com os vencimentos atrás referidos, a quantidade dos mortos nas estradas e dos mutilados e deficientes por via de acidentes, a quantidade de mendigos e de sem-abrigo que vagueiam pelas ruas e pelos transportes, o fracasso e o abandono escolares, o elevado grau de iliteracia, a deficiente administração das finanças públicas traduzida em défices inaceitáveis, etc, etc.

O extraterrestre, ao saber disto, logo enviaria um SOS para o retirarem rapidamente daqui e regressar ao seu planeta antes de ser contagiado por este povo fortemente doente de uma epidemia de megalomania, insensatez, desequilíbrio mental e emocional, mania da ostentação, acomodação à crise, à pobreza, à ignorância e às carências de toda a ordem, chegando ao cúmulo de, nesta situação anómala, haver um ministro que ousou dizer não haver motivo para pessimismo. Deve ter tido apenas conhecimento da informação referida no primeiro parágrafo, o que para ministro é pouco.

Em vez da árvore de Natal teria sido preferível, por exemplo, fazer algo para resolver, pela positiva, os problemas que estão a montante do número de pedintes e sem-abrigo que povoam a Rua Augusta ali tão perto.

Sem comentários: