quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Política com «p» minúsculo. 040723

(Publicada no Público, em 23 de Julho de 2004, pág. 5)

Um partido político, na AR, acusou um ministro e um secretário de Estado de terem trabalhado e tido interesses em empresas dos sectores que agora tutelam. Os factos assim referidos justificam, sem dúvida, uma atenção constante e intensa sobre as decisões destes governantes, com vista a detectar qualquer acto menos transparente e legítimo que possa favorecer o seu antigo patrão ou cliente. A crítica agora produzida apenas poderá ser justificada como prevenção. Mas não parece muito legítimo estar a recear já actos futuros que, apenas no campo das hipóteses, possam ser menos claros. É que o receio, a precaução exagerada, a prevenção a todo o custo de riscos pouco prováveis são sentimentos negativos, paralisantes que impedem a acção. Quando levados ao exagero, são pior do que a burocracia. São atitudes bloqueadoras que, por isso, prejudicam os reais interesses nacionais.

Mas estas críticas aos governantes enquadram-se num conjunto de apreciações contraditórias. Nuns casos, como estes, os governantes não são bons porque conhecem muito bem os problemas reais da área que tutelam. Noutros casos, não servem porque não fazem a mínima ideia das realidades concretas com que irão defrontar-se, porque nada fizeram nas actividades privadas em virtude de, desde tenra idade, só se terem entretido com as tricas da política partidária.

Perante estas críticas contraditórias, transmitidas pela televisão e por outros meios da comunicação social, o eleitor fica «atordoado» sem saber qual o melhor currículo para um bom governante e acaba por ser tentado a concluir que tanto os políticos profissionais como os comentadores praticam uma política com «p» minúsculo, discutindo apenas interesses de partidos e de pessoas e esquecendo os interesses nacionais.

Sem comentários: