sexta-feira, 14 de agosto de 2009

País de «embustes»? 050711

(Enviada aos jornais em 11 de Julho de 2005)

O presidente da Associação Comercial da Guarda, perante a situação incómoda dos comerciantes na zona fronteiriça, agravada pela diferença de preços devido ao aumento do IVA, pediu aos consumidores para deixarem de fazer compras em Espanha, «contribuindo para o enriquecimento regional», aconselhando a «concretizar gestos como olharmos para um produto que em Espanha é mais barato e mesmo assim comprá-lo em Portugal». É chocante esta posição de embuste. Se a população gastar desnecessariamente mais dinheiro nas suas compras, não se consegue o enriquecimento regional, mas sim o enriquecimento dos comerciantes, e o empobrecimento regional (da generalidade da população). Seria mais lógico que procurasse convencer os seus colegas comerciantes para reduzirem a sua margem de lucro a fim de compensar «o aumento do IVA e, assim, poderem concorrer com os seus rivais espanhóis.

Compreende-se a sua intenção mas, nos tempos que correm, em que existe liberdade de circulação de pessoas e bens através da fronteira, e toda a gente, melhor ou pior, sabe fazer contas, aquele argumento não convencerá ninguém. Talvez fosse melhor sugerir que atendessem ao tempo perdido, ao incómodo e às despesas da viagem, que reduziria o benefício da diferença dos preços, mas, para quem vive relativamente perto da fronteira e faça um volume de compras considerável, não haverá argumento aceite por pessoas medianamente informadas. As pessoas devem saber dar valor ao seu dinheiro.

Os governantes, ao aumentarem o IVA, obviamente não devem ter descurado esse fenómeno da falta de «bairrismo» na zona raiana a que esse senhor alude e que afectará o comércio tradicional da região. Pela minha parte, prometo ser «bairrista», no sentido por ele referido, porque moro a mais de 200 quilómetros da fronteira e faço um pequeno volume de compras de cada vez. Senão...

Sem comentários: