sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Idosos não são o perigo rodoviário. 050715

(Publicada no Metro em 15 de Julho de 2005)

No início de Novembro de 2003, um dos secretários de Estado do MAI atribuiu enorme gravidade ao perigo dos idosos na segurança rodoviária e o ministro da Saúde, quatro meses depois, dava elevada prioridade ao rigor dos exames sanitários dos idosos para efeito de renovação da carta de condução. Deduzia-se que, na opinião pretensamente abalizada destes políticos, os idosos eram o maior perigo nas estradas. Estas reacções impulsivas, insensatas, despudoradas de pessoas que, ou não tinham nada de importante a ocupar-lhes o tempo ou tinham o tempo tão ocupado que não lhes restavam uns minutos para pensar com bom senso, eram devidas ao facto de um idoso ter entrado numa auto-estrada em contramão, talvez devido a sinalização confusa e pouco eficiente.

Nas duas datas, em cartas publicadas em vários jornais, permiti-me sugerir que devia, em primeiro lugar, ser elaborada uma estatística das idades dos intervenientes e causadores dos acidentes ocorridos durante um largo período, porque me parecia que o grande perigo na estrada, não vem dos idosos, mas sim dos mais jovens, talvez da idade do referido secretário de Estado.

O tempo passou e a verdade vem à superfície, como o azeite na água. Hoje (12 de Julho) vi num jornal que «o grupo etário entre os 20 e os 30 anos é aquele que mais acidentes de viação sofre. Porque corre demasiados riscos e ultrapassa os próprios limites ao volante» «É a faixa dos 24 aos 29 que lidera nos óbitos». O artigo assentava no estudo de um conhecido antropólogo que se tem interessado a fundo pelos problemas rodoviários.

A insensatez dos referidos governantes e a ânsia de mediatismo, precipitaram a sua posição errada, desviando as atenções da verdadeira essência da sinistralidade e, portanto, atrasaram a pesquisa no sentido correcto da busca de soluções. Não devemos generalizar, mas infelizmente é frequente os políticos emitirem opiniões precoces e não fundamentadas, e depois teimarem em mantê-las, desviando as atenções dos verdadeiros problemas. Não é de esperar, por inútil, que o referido secretário de Estado venha dar a mão à palmatória, mas, sim, que os actuais governantes orientem os esforços dos organismos com responsabilidades na segurança nas estradas no sentido de ser encontrada uma solução que reduza a gravidade da tragédia a que o País tem estado sujeito.

Sem comentários: