sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Os militares e a sua condição. 051015

(Publicada na revista Sábado em 15 de Outubro de 2005)

Segundo um título de jornal, Loureiro dos santos, a propósito da atitude do Governo em relação aos militares refere a ignorância dos políticos. Ignorância não é coisa grave, porque se as pessoas tiverem consciência dela, podem colmatá-la facilmente. O mais grave é a falta de bom senso e de sensibilidade para aquilo que é essencial na vida do País. Os militares de carreira eram até há pouco tempo assumidos herdeiros das tradições dos cavaleiros medievais que estavam preparados para tudo sacrificar, até a própria vida, pelo rei e pela sua dama. Isto traduzia um acrisolado amor pela Pátria, valor indiscutível que merecia qualquer sacrifício. Com as alterações ocorridas recentemente, na sociedade, tornou-se normal que aos sacrifícios, às restrições dos direitos de cidadania e a outros condicionamentos (condição militar) têm de corresponder compensações pecuniárias que se traduzem em adequado poder de compra.

No bom estilo ditatorial, os políticos recusam-se a interpretar a condição militar, nas suas duas vertentes, ousam retirar as compensações e, perante o evidente descontentamento daí resultante, afirmam arrogantemente que os militares têm de cumprir os seus deveres de obediência à condição militar e de subordinação às restrições que esta lhes impõe. Isto é um jogo sujo; é brincar com gente séria e honesta. Até já houve um ministro que prometeu pagar um reforço de pensão aos ex-combatentes e, ao fim de muitos adiamentos, pagou apenas a 20% dos que a ele têm direito, ficando os restantes à espera. Ficou apenas a lei, mas o Governo ignora-a. Não cumpre a lei mas exige que os outros cumpram a sua parte do contrato. As leis são apenas para o povinho cumprir.

Se isto assim continuar, avizinham-se tempos em que nas Forças Armadas só haverá voluntários, amantes de actividades radicais, que ao verem que ser militar não é só desporto, arrependem-se e divulgam o seu descontentamento, chegando ao ponto de só poderem ser encontrados voluntários entre os imigrantes, os quais, logo que se compenetrem da realidade, desistem. E depois? Como é que os Governos conseguirão manter o estatuto de fanfarronice no Kosovo, no Afeganistão, em Timor, etc.? Terão então de pagar a dobrar as compensações que agora retiram. Sobrecarregam assim o erário e ficam com efectivos de mais fraca motivação, mentalização e preparação. Os piores efeitos de uma má política são os que se fazem notar a prazo.

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