sábado, 15 de agosto de 2009

O típico intelectual lusitano. 051014

(Publicada no Metro em 14 de Outubro de 2005)


Merecem-me todo o respeito as pessoas que, dotadas de uma inteligência superior à média e devido a aturado estudo e reflexão, geram no seu espírito ideias elevadas, luminosas, bem definidas que devem ser divulgadas por, dessa forma, poderem contribuir para a elevação do nível cultural dos seus concidadãos e da sua compreensão das realidades do mundo em que vivem. Os intelectuais merecedores do nosso respeito e admiração usam a lógica matemática ou informática que consiste em simplificar as suas ideias bem definidas, por forma a serem compreendidos pelos outros. Em informática, os problemas mais complexos são traduzidos numa linguagem assente em apenas dois símbolos, o «um» e o «zero», ou o sim e o não.

Mas o típico intelectual lusitano, em vez de exprimir ideias perfeitamente definidas em linguagem clara e precisa, compreensível por todos ou por uma «grande maioria, procura, pelo contrário, ocultar a ausência de conceitos válidos com um sequência de palavras pouco vulgares, para procurar convencer os outros da sua alta e inefável intelectualidade. Isso não é comunicar e não é um atributo do verdadeiro intelectual.

E a propósito destas reflexões, lembro-me do discurso do PR em que se referia à «inversão do ónus da prova». O seu muito saber, experiência da vida e dos trâmites jurídicos, e a sua vontade de «marcar a diferença», foram traídos pela falta de clareza na tradução por palavras de uma ideia bem intencionada. E isso levou-o a pôr em prática a sua frontalidade de homem sério, vindo a público explicar as dúvidas que o seu discurso tinha suscitado. Clarinho, clarinho, para português perceber.

Uma das deficiências apontadas à realidade nacional é a falta de ligação e de interacção entre, por um lado, o legislador, o professor universitário, o cientista, o intelectual e, por outro lado, o destinatário das leis, o executante, o operário, o cidadão comum. Essa falta de técnicos e de quadros intermédios, transforma a sociedade num ambiente de diálogo de surdos em que ninguém se entende e nada funciona como era desejável. E cada um teima em impor o seu ponto de vista, sem receber o necessário «feed-back» do seu irrealismo, teórico e quixotesco.

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