(Publicada em «O Independente», em 22 de Outubro de 2004, p. 47)
Na manhã de terça-feira, 19, com chuva intensa, indo a pé pelo passeio de uma avenida de grande movimento, de guarda-chuva aberto e atento às poças de água, reparava que a velocidade dos carros, nada inferior à praticada nos dias secos, era indiferente às más condições de aderência do piso e às quantidades de água lançadas para os peões que circulavam ou que esperavam os autocarros. Disse para comigo que ao fim do dia iriam surgir notícias de inúmeros acidentes com vários feridos e talvez mortos.
E pensei também naqueles cronistas que, ao insurgirem-se contra o novo Código das Estradas, afirmam com convicção que as alterações ao Código são inúteis porque os acidentes só terminam quando os comportamentos forem alterados. Verdade e, ao mesmo tempo, utopia. Tal mudança, sem dúvida útil e indispensável, não acontecerá nos próximos anos, como se verifica diariamente, e, entretanto, vão continuar as imprevidências e inconsciências, com desnecessárias exposições a riscos graves e gratuitos.
Como estas chuvas evidenciaram mais uma vez, é necessário modificar os comportamentos dos condutores para não se arriscarem a acidentes e não projectarem violentamente a água da rua contra quem se encontra nos passeios, e também o comportamento e a competência dos responsáveis pela construção e manutenção das ruas a fim de evitarem as poças de água originadas pelo facto de as sarjetas não estarem limpas e não estarem colocadas nos pontos mais baixos, que como se sabe são o destino da água.
Para infelicidade de muitas famílias, o meu receio atrás referido era justificado. À noite, os noticiários mostraram as consequências da falta de cuidado com a condução em piso molhado. Parece lógica a conclusão de que é preciso agir, desde as autoridades até cada um de nós, em ordem a tornar os comportamentos mais sensatos e seguros e que, entretanto, os agentes devem actuar com o máximo rigor e eficácia, com vista a estancar a permanente perda de vidas.
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