(Publicado em «O Independente», 19 de Setembro de 2003, p. 22)
Nos canais de televisão tem sido muito atacado o valor exorbitante que as famílias gastam com a abertura do ano escolar. O principal alvo é a exigência dos estudantes de produtos de marca, para não ficarem mal vistos na competição da ostentação com os colegas. Atacam as grandes superfícies por procurarem atrair os clientes para os produtos mais caros. Atacam a publicidade por exercer grande poder de influência no potencial consumidor.
Para cúmulo, li no suplemento dominical de um jornal diário as palavras de uma mãe: «Como é que eu explico à minha filha de seis anos que ela não pode ter aquilo que todos os outros têm? Que ela deve aguentar porque o orçamento familiar não dá?»
Como não consigo ficar indiferente a uma situação tão «dramática», penso que poderá ser útil lembrar a muitas pessoas, como essa mãe, que o ensino, ou melhor a educação, começa em casa, quando ainda se pode «torcer o pepino», e que há além de outras, estas três coisas que é imperioso e urgente ensinar aos filhos:
1. As pessoas devem dar mais valor à originalidade, à inovação, à criatividade nas soluções, do que à imitação, à cópia e ao seguidismo da moda e do que vêm nos outros. É degradante ver os meninos da escola todos com mochilas com o mesmo boneco. Parece uma formatura de militares!!
2. A publicidade não é feita para benefício do consumidor mas sim para lucro do produtor e do vendedor. Cada consumidor deve avaliar as suas necessidades e ver, de entre os produtos existentes, qual o que mais lhe interessa, atendendo ao dinheiro de que dispõe e às outras despesas que tem de fazer. Estou de acordo com as técnicas de venda dos hipermercados e com todos os tipos de publicidade, desde que não seja enganosa e que não recorra a imagens de violência ou de imoralidade. As pessoas reflectem sobre ela e, depois, são livres de tomar as suas decisões. Recebo vários telefonemas por semana a quererem vender-me maravilhas; ai de mim se não soubesse pensar e dizer que não estou interessado!!
3. O dinheiro é um bem finito. Aquele que se gasta na guloseima deixa de estar disponível para o lápis e a borracha ou o caderno. Habituar os miúdos à mesada ou semanada pode ser útil para aprenderem a gerir o dinheiro, sabendo o seu valor e os seus limites, e a importância da pequena poupança para fazer face a necessidades advindas.
Claro que há pessoas como a referida mãe que não sabem dizer não aos filhos e aproveitar a oportunidade para lhes explicar estas coisas que são lições práticas da vida. Mas sem estas lições na tenra idade, está-se a criar uma geração de futuros empresários e políticos incapazes de gerir os interesses das empresas e do país. E... depois, como será o país? Que futuro irão ter esses meninos de hoje? Ser pai exige muita responsabilidade. «Quem dá o pão, dá a educação».
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