sexta-feira, 14 de agosto de 2009

O Brasil combate a corrupção. E nós? 050724

(Enviada aos jornais em 24 de Julho de 2005)

O Brasil, tendo sido a primeira colónia portuguesa a tornar-se independente, tem uma área cerca de 100 vezes superior à de Portugal e uma população cerca de 16 vezes superior. A sua riqueza económica provém de uma origem bem distribuída pelos três sectores clássicos, de forma considerada adequada à sua condição de grande potência. Se em parte deve aos portugueses aquilo que é, em muitos aspectos temos muito a aprender com os nossos irmãos da outra margem do Atlântico. Vem agora a público a existência de corrupção dentro do Governo, o que já originou afastamento de políticos. Há quem considere estas notícias chocantes, mas convém reflectir um pouco sobre elas. Vejamos que, por cá, embora não se «conheçam» casos concretos, a limpidez das consciências parece não ser total, a dar crédito às palavras de um célebre ministro de Estado, com largo e profundo conhecimento do meio político, das várias cores, segundo as quais, os portugueses não podem dar lições de combate à corrupção.

Desta forma, ficamos a saber que o Brasil, apesar das apreciações mais ligeiras que só assentam no carnaval do Rio e no ritmo do samba, é um Estado poderoso, moderno e com bom sentido da moralidade. Pelos vistos, lá a lei é geral e obrigatória para todos, os governantes não são irresponsáveis, nem imunes, nem impunes, como já tínhamos visto com o caso do «impeachment» ao ex-Presidente Collor de Mello e vêmo-lo agora com os membros do Governo de Lula da Silva. Pelo contrário, por cá, apesar das palavras atrás referidas, não se fala de corrupção e, quando se fala, aparecem «paninhos quentes» e fica tudo em «águas de bacalhau». Há alguns anos, falou-se muito de um caso de corrupção, ligado a um aeroporto, em que dois indivíduos foram condenados por corrupção activa, mas não houve nenhum condenado por corrupção passiva. Os políticos não são responsáveis e beneficiam de imunidade e impunidade. E o cheque saiu das mãos de alguém e não foi parar às mãos de ninguém. E não se sabe o que se passa com os autarcas que têm sido considerados «suspeitos» de irregularidades.

Temos muito a aprender com o Brasil, onde parece que ninguém (nem os políticos) está acima da Justiça. Temos que moralizar o nosso sistema político, com mais transparência, melhores exemplos a virem de cima para serem seguidos pela população e, principalmente, acabar com leis especiais que apenas se destinam para dar regalias aos políticos, colocando-os numa órbita totalmente exterior à realidade nacional.

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