sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Mulher de César. 050114

(Publicada em O Independente em 14 de Janeiro de 2005)

É velho o aforismo que diz que a mulher de César não basta ser séria, tem de parecer que o é. As pessoas públicas que precisam de credibilidade e do respeito do público têm de ser sérias e precisam de tornar evidente que o são.

Num momento em que muitas vozes conceituadas dizem que os políticos «profissionais» devem reabilitar a sua credibilidade, assistimos, ao invés, a decisões e atitudes incrivelmente despropositadas. Num partido, sai para o público a imagem de que o líder não lidera nada nem ninguém, muitos companheiros o hostilizam e todos se guerreiam entre si. De outro vem-nos o sinal horrível de que para deputado pode ser eleito qualquer indivíduo, mesmo que se encontre abrangido por processo jurídico por suspeita de crime grave. Claro que, juridicamente, só será criminoso se for julgado e condenado. Mas, a mulher de César...

Há pouco tempo, um autarca com suspeitas de má gestão foi «promovido» a deputado. Até parece que o Parlamento é pouco selectivo e dá guarida a qualquer político «profissional», servindo para lavagem de factos menos dignificantes, e para tentativa de «amaciamento» da justiça.

Mas nem tudo vai mal na política. Há um partido que, apesar de conhecidas divisões internas, apresenta-se ao público com a imagem de unidade, assim o afirmando duas personalidades notáveis de facções diferentes. Quanto à mulher de César, não deviam ser esquecidos os exemplos de Duarte Lima, António Vitorino, Jorge Coelho e Murteira Nabo que, perante dúvidas públicas sobre si levantadas, saíram dos seus cargos, para não lesarem a imagem das instituições a que pertenciam nem a dos políticos em geral. Só é de lamentar que os seus exemplos não tenham sido seguidos por outros políticos e que assistamos a uma ânsia obsessiva pelo poder para muitas vezes o utilizarem autoritariamente, sem qualquer critério de bom senso, de interesse de Estado, de forma caudilhesca, como se viu em casos muito publicitados no ainda actual Governo.

Os líderes partidários, devem consciencializar-se de que se querem o nosso voto, devem apresentar-nos pessoas que o mereçam pelo seu carácter, seriedade, bom senso e competência comprovada em funções anteriores.

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