sábado, 15 de agosto de 2009

Militares em despedida. 051213

(Publicada no Diabo em 13 de Dezembro de 2005)

Depois das restrições impostas pelo Governo aos militares, desde o apoio na doença, às alterações das reformas, inseridas na intenção de os considerar em condições semelhantes às da generalidade dos funcionários públicos, era previsível que viessem a surgir as notícias de pedidos para o abandono do serviço activo. E elas aí estão nas páginas dos jornais: 600 no Exército, 1000 na Marinha e vários pilotos da Força Aérea a passarem para a aeronáutica civil.

Isto era previsível tal como o é a futura ausência de voluntários de qualidade para preencher as necessidades dos Ramos das Forças Armadas. Não foi sensato que, a propósito das manifestações previstas no fim do Verão, o ministro enfatizasse exageradamente as restrições e imposições da «lei da condição militar», nomeadamente quanto à obediência, depois de ter anunciado a eliminação das compensações existentes para tais restrições que impedem os militares de ser cidadãos no pleno uso dos direitos, liberdades e garantias gerais.

Ainda recentemente, um militar morreu em actividade operacional no Afeganistão, perigo que não é inerente a qualquer funcionário público, seja professor, juiz ou funcionário das Finanças. Se os políticos tinham dúvidas, ficou claro que os militares não são vulgares funcionários públicos e que têm direito a compensações dos riscos e das restrições de direitos que lhes são impostas. Sem essas compensações não parece que, numa era de esclarecimento generalizado, continue a haver voluntários para tal martírio gratuito. E os poucos que surgirem devem ser investigados por forma a descobrir quais as suas reais motivações, ou ausência de capacidade para melhores profissões.

Em vez de se oferecerem para as FA, os jovens farão melhor se arranjarem emprego nas Finanças ou se procederem à sua inscrição na juventude de um partido político, com hipótese de governar, tudo menos a vida militar. Caminha-se, desta forma, para o desaparecimento de um elemento determinante da soberania nacional. Será isto que os governos querem? Será isto que interesse a Portugal? Pelo menos, Mousinho de Albuquerque disse que este país é obra de soldados. Este assunto obriga a profundas reflexões e não se compadece com decisões emotivas.

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