(Publicada na Sábado em 29 de Julho de 2005)
A propósito das declarações de Jardim, no início do mês, sobre a concorrência económica de chineses e indianos, mão amiga fez chegar ao meu computador um texto de Baptista Bastos que merece profunda reflexão. Não quero deixar de elaborar algumas reflexões, embora superficiais e distantes da arte de utilizar as palavras que é apanágio daquele escritor. Aquele texto é eloquente, o que não surpreende em autor tão bem informado e exímio no uso da palavra. Diz que «Ninguém lhe aplica o código penal e os processos advenientes», «muitos dos (...) insultados, injuriados e caluniados apertam-lhe a mão», «a cobardia do silêncio cúmplice atinge níveis inimagináveis».
Aplicar o Código Penal? Porquê? Temos ouvido afirmações e insinuações contra a honra de qualquer político, vindas da parte de colegas de «profissão», muito mais graves do que aquilo que Jardim diz. Recorde-se da recente guerra eleitoral e daquilo que foi dito e aludido contra Sócrates, Portas e Santana Lopes, para não referir outros. Lembre-se daquilo que se diz em público (transmitido pela TV) no hemiciclo, em que, no mínimo, se chamam mentirosos uns aos outros. Tenha presente os «lapsos» da ministra da Educação com o seu desconhecimento do estatuto autonómico dos Açores, a ignorância do MAI quando prometeu fazer acompanhar as rusgas da polícia por um magistrado, as «falhas» do ministério das Finanças no Orçamento Rectificativo, as emendas nas previsões do défice do BP, as contradições e baralhadas entre membros do Governo, de que sobressai agora a entrevista de F. Amaral, etc. É por isso que todos os políticos são seus cúmplices, ninguém tem a consciência limpa para o entalar entre as laudas de um processo, e todos lhe apertam a mão. O que se passa com Jardim é que usa uma linguagem mais tipicamente portuguesa, mais rural ou mais castiça, sem punhos de renda, não se esforçando por utilizar palavras politicamente correctas, não usando as subtilezas de escritores como Baptista Bastos. E, mais ou menos dito da mesma forma, aquilo que ele diz, pode ser ouvido nos transportes públicos, nas conversas de café, entre amigos ou simplesmente conhecidos de ocasião. Se Jardim tivesse pecados como os recentemente vindos a público acerca de vários autarcas do Continente, já estaria crucificado; se o não está, presume-se que tem sido honesto na sua administração.
Por outro lado, ao contrário daquilo que se passa na política em que se concede mais importância às palavras ardilosas e aos embustes do que aos actos, devia avaliar-se o valor das pessoas pelos seus actos, as suas obras, o trabalho concretizado, e, por esse método, teríamos que reconhecer muito valor a Jardim pelo muito que tem realizado no Arquipélago que vem governando há muito tempo, por vontade dos seus eleitores. Não pode deixar de se enfatizar as declarações da embaixadora da Índia que diz ter-se tratado de um mal-entendido e que admira Jardim. Atrevo-me a perguntar qual a zona do país que tem beneficiado de tanto desenvolvimento como a Madeira? A quem se deve o surto de modernização deste Arquipélago.
Democracia dá trabalho
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