(Publicada no Correio da Manhã em 27 de Julho de 2005)
Há no País um género de intelectualidade tão pequenina e míope que, perante a imensidade da floresta, ignora-a e pretende ver apenas uma árvore, muitas vezes destoante do conjunto por ser rara e exógena. Num vasto problema, desprezam quase todos os seus aspectos, factores e variáveis e olham apenas para um pormenor, ignorando as implicações, os efeitos, os prejuízos e benefícios de cada uma das hipóteses alternativas de solução.
São casos ilustrativos destas visões demasiado condicionadas por antolhos, os da barragem de Foz Côa, da pedreira do Galinha, do túnel de Belas, da central nuclear e da energia eólica. Foi tomada a decisão de parar a construção daquela barragem, sem analisar os efeitos futuros, sem esboçar as diversas alternativas para as gravuras paleolíticas. Agora são inúmeras as lamentações da falta de água e da demasiada dependência do petróleo para a produção de energia. Foi pena o assunto não ter sido devidamente estudado na oportunidade por uma comissão multidisciplinar.
Também, quando começou a pensar-se no aproveitamento da energia eólica, se levantaram vozes a lamentar as aves que iriam morrer por chocarem com as pás das hélices. Porém, as mesmas vozes, sem qualquer explicação, acham agora que a solução energética passa pelos aerogeradores para substituir o petróleo e o gás natural, ambos lesivos do efeito de estufa e da camada de ozono. Mas, nem tanto ao mar nem tanto à terra, as energias renováveis estão longe de tornar o País auto-suficiente.
Por outro lado, a hipótese da energia nuclear, pelo processo de cisão, apoiado num recurso natural abundante na Beira Alta e no Alto Alentejo, foi posta de lado quando se falou na falha geológica de Peniche, onde iria ser instalado um reactor, e voltou agora a ser sugerida para fazer face à pesada factura dos hidrocarbonetos. Logo, saltaram à liça aqueles que argumentaram a favor do fecho da barragem de Foz Côa, contra o risco dos aerogeradores matarem as aves, e contra as centrais térmicas que causam efeito de estufa, etc. Mas, desta vez, opõem-se também novamente à hipótese nuclear. Não se vê um estudo global, abarcando todos os aspectos, sem posição prévia, ao alcance da generalidade das pessoas. Acreditando em cada argumento de cada uma das campanhas sobre as fontes energéticas só nos restaria a solução de viver sem electricidade, sem água canalizada, sem automóvel e deixar, portanto, de dispor das regalias inerentes, como o rádio, a televisão, os restantes electrodomésticos, etc. Será que os ecologistas fanáticos vivem sem essas facilidades? Ficamos à espera que os governantes não se deixem pressionar e decidam, após estudos aprofundados de todas as hipóteses de solução e dos efeitos previsíveis para cada uma, elaborados por equipas pluridisciplinares e isentas.
DELITO há dez anos
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