(Enviada aos jornais em 1 de Setembro de 2005)
É sabido que as minhas cartas focam geralmente reflexões de ideias e se desviam de tricas e de interesses pessoais. Mas hoje assumo o direito de a minha assinatura me permitir falar de mim. Com efeito, no primeiro de Setembro, fiquei mais esclarecido sobre o ambiente nacional. Comecei por achar graça ao meu homónimo Mário, de quem fui companheiro na viagem de serviço a Argel em meados de Junho de 1974. Tal como ele, também sou daqueles que não querem morrer antes de chegar a hora e até deixei de dizer que «já tenho xis anos» para, em vez disso, dizer que «tenho apenas xis anos» e ainda posso vir a vender a imagem nos confortáveis sofás de qualquer palácio.
Depois, fiquei impressionado com o realce dado aos fogos florestais, tratados em vários artigos cujos títulos suscitam reflexões interessantes. O «PR defende a limpeza coerciva» das matas à semelhança das obras nos prédios urbanos degradados. Mas como? A resposta vem ao lado «nem a pagar há gente para cortar e limpar a mata». E mesmo que houvesse, muitos proprietários, idosos com pensões de miséria, não poderiam suportar os custos da limpeza. E o Estado não está sintonizado com o pensamento do PR, ou vice-versa, e isso vê-se no exemplo dado: «Estado não cuida da mata nacional».
Dar responsabilidade, neste âmbito, às autarquias, parece não ser viável. Jaime Soares (ANMP) acusou Jaime Silva (ministro da Agricultura) de estar a ser «política e intelectualmente desonesto» quando anuncia coimas às autarquias por não tomarem medidas preventivas dos incêndios, carecendo a legislação de ser regulamentada. O Plano Nacional de Prevenção e Protecção da Floresta contra Incêndios ainda não está feito e é nele que devem inserir-se os planos de defesa da floresta de âmbito municipal. Mas, apesar de a legislação não estar regulamentada e de o Plano não ter sido elaborado e publicado, está a ser dado um salto em frente com uma «profunda reforma», «incentivos fiscais para boas práticas», «ordenamento da mancha florestal» e «profissionalização dos bombeiros». Oxalá saia legislação aplicável e que seja sensatamente regulamentada com oportunidade, o que não parece muito de esperar dado um outro título referente a outro tema: «política séria precisa-se».
Enfim, é notório o desnorte desde o PR, ao Governo e às autarquias. Apesar de o assunto ter sido amplamente discutido de forma teórica e utópica, continua a não se conhecer uma estratégia bem definida nem directivas práticas inteiramente aplicáveis. Quer o Inverno seja seco ou chuvoso, só nos resta recear, com muita apreensão, a repetição da catástrofe no próximo Verão, com políticos em visita mediática às zonas dos incêndios a proferirem lindos discursos vazios de conteúdo real.
Democracia dá trabalho
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