(Publicada em O Diabo em 1 de Fevereiro de 2005)
Li hoje nos jornais que «a maioria dos portugueses defende o agravamento da penalização para quem conduz com álcool no sangue ou em excesso de velocidade». Achei estranho que esta opinião, pelos vistos generalizada, tivesse honras de publicação. É que, há meio ano, reagindo a um artigo que se insurgia contra a linha que ia ser seguida na revisão do Código da Estrada, dizendo que em vez da repressão devia ir-se pela modificação dos comportamentos, escrevi que, embora concordasse com a sensibilização e a alteração de comportamentos, como os resultados seriam muito demorados e continuaria a haver perdas de vidas humanas quer por morte quer por invalidez vitalícia, devia, no imediato, adoptar-se a repressão adequada, com intensificação da fiscalização. Na altura houve reacções às minhas palavras, da parte de sonhadores irrealistas.
Passados poucos meses veio a vencer a minha tese. Segundo os jornais de hoje, na Noruega, «Os condutores que infrinjam as regras de trânsito vão passar a pagar multas mais elevadas do que o valor das sanções aplicadas por um crime violento ou posse de droga». Os responsáveis por um país evoluído, chegaram à conclusão que não há grande diferença entre um homicídio perpetrado com uma pistola ou uma faca e aquele que é executado com um automóvel. E insistir na sensibilização dos condutores para resolver uma questão tão urgente, é adiar o problema; é deixar que, diariamente, continue o massacre de inocentes. «Parece ser inquestionável que os comportamentos nas pessoas e, muito menos, nas sociedades não se alteram facilmente. O mesmo acontece com o civismo. Não se respeitam normas de relacionamento (como é o Código das Estradas), nem de boa condução, com respeito pelos outros utentes da estrada; não se reconhece a autoridade dos pais, dos professores, dos mais experientes, dos polícias, das leis, etc.»
Daí que se compreenda a opinião de portugueses acima referida e que um «estudo indica que portugueses querem uma fiscalização nas estradas mais eficaz». Porque, a inconsciência dos condutores fica evidenciada na frase «quatro em cada dez condutores portugueses gostam de guiar depressa.»
Estou convicto de que não é com sensibilização baseada em bons conselhos que deixa de haver carros a circular sem seguro, sem faróis eficientes (um farol apagado faz que um carro pareça uma mota e dê lugar a colisão frontal), passageiros sem usarem cinto de segurança, condutores fatigados e sem dormirem por terem passado a noite em discotecas, abuso do álcool, velocidade excessiva além das capacidades de o condutor poder dominar o carro, etc.
Defenda-se a vida de quem utiliza as estradas, através de uma fiscalização mais sistemática, de penalizações pesadas e rápidas. Não se compreende que infracções que levam à cassação da carta demorem tanto tempo a ser penalizadas que, entretanto, o condutor repita o mesmo crime.
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