(Publicada na Sábado em 17 de Junho de 2005)
Quando, há algum tempo, vi pela primeira vez nos maços de tabaco que sujam a nossa paisagem urbana a frase «fumar mata» não quis acreditar. Se aquilo era verdade, porque é que o tabaco não era vendido apenas perante a apresentação de uma licença de uso e porte de arma? Porque é que o Estado beneficiava com esse negócio, cobrando impostos? Queria compreender e não conseguia decifrar o enigma. Mas agora, finalmente, estou esclarecido. Há dias, jornais traziam em título que o aumento do imposto sobre o tabaco vai minorar as dívidas da saúde. Ora aqui está uma contradição: afinal fumar reduz o défice orçamental e faz bem à saúde e, quanto mais fumarem, maior será esse benefício! Portanto, a frase acima citada é uma forma hábil de aumentar o consumo de tabaco, explorando o espírito de contradição nacional.
Na mesma data, outro título dizia que o aumento dos impostos sobre o petróleo, que todos os portugueses pagam, vai ser destinado a pagar as SCUTS que alguns usufruem. Se, com o mesmo espírito justificativo, vier a ser dito que as coimas das infracções de trânsito serão aplicadas em melhorar as estradas, cria-se um subtil estímulo para que as pessoas não cumpram (menos do que agora) o Código da Estrada, para poderem ter melhores vias. Por este andar, chegaremos ao ponto de estimular os roubos e os assaltos como forma de acabar com a pobreza e as diferenças sociais e criar uma sociedade mais justa e homogénea.
E também não chocará se, com a intenção de acabar com os abusos e repressão policiais, se defender as agressões, e assassínios de polícias e o roubo dos seus carros. Da mesma forma, como é vulgar imitar-se o mal, não vai deixar de haver quem, ao ver a lista publicada de empresas autoras de fraudes fiscais, não queira ficar atrás e procure seguir-lhes o exemplo. «Se elas fazem, porque não eu?»
Estamos em época de grandes transformações sociais e não admira que surjam estes estímulos e aliciantes com origem na geração de 70. Antes de tomar decisões de tal complexidade, seria aconselhável ponderar todos os efeitos na sociedade.
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