Fome e excesso de população
(Publicada no Público em 14 de Setembro de 2004
Neale Donald Walsch, no seu livro «Conversas com Deus». Pág. 70, coloca na boca do Criador as seguintes palavras: «O mundo pode acabar com a fome amanhã. Vocês optam por não fazer isso. Afirmam haver razões válidas para que morram à fome quarenta mil pessoas por dia. Não há razões válidas. No entanto, ao mesmo tempo que dizem que nada podem fazer para impedir que morram de fome quarenta mil pessoas por dia, trazem também por dia outras cinquenta mil pessoas ao mundo para iniciarem uma nova vida. E é a isso que chamam amor, que chamam plano de Deus. É um plano totalmente desprovido de lógica ou razão, já para não dizer compaixão.»
É um facto que o mundo está sobrepovoado, com consequências na poluição e noutras agressões ao ambiente, e na fome e na segregação de pessoas desprotegidas. A Índia, país evoluído, no grupo da frente no uso da informática e novas tecnologias (cidade de Bangalore e outras), tem efectuado um grande esforço para reduzir a natalidade, incluindo prémios aos casais que se submetam à castração. A China, país com uma das mais elevadas taxas de desenvolvimento em anos seguidos do mundo, em vias de se tornar a maior potência económica, com uma indústria a competir com as melhores (recentemente, durante o Euro 2004, de forma rápida, cobriu Portugal de bandeiras nacionais), tem legislação que reduz a natalidade a um filho por casal.
Pelo contrário, Portugal, com uma economia sem comparação com a de países evoluídos, com pessoas a pensar mais no consumo do que na produção, a alimentar-se quase exclusivamente de produtos importados, empertigou-se com os seus «valores morais» e enfrentou um pequeno barco a que chamou «do aborto» com o máximo das suas forças militares. Não o ameaçou com bomba atómica nem com porta-aviões porque não é coisa que cheire.
E, afinal, esse barco apenas pretende informar que ao contrário da IVG (interrupção voluntária da gravidez) praticada em vão-de-escada, com os perigos inerentes, pode ser efectuada em condições seguras com higiene, sem perigo de vida para as mulheres. Não se trata de aumentar o número de abortos, mas de os tornar menos perigosos, como já acontece noutros países. Mas, enquanto os ordenados dos deputados são comparados com os dos outros países, neste assunto não é admitida essa comparação.
Parece poder concluir-se que o Governo quer que as mulheres continuem a correr sérios riscos de vida, fazendo a IVG em garagens. Para quê? Para elas morrerem, reduzindo a população? Ou será que espera que elas desistam da IVG e contribuam para que a população aumente, para ser maior o número de pedintes, de sem-abrigo, que enxameiam por todos os locais das cidades.
Sou contra o aborto, ou melhor, sou contra as condições que conduzem as mulheres a fazerem a IVG. Há que ir ao fundo da questão e combater essas condições: desde a divulgação de conhecimentos (educação sexual), ao desenvolvimento económico, que garantam uma maternidade consciente e responsável para gerar filhos que possam ser criados e educados como cidadãos válidos e produtivos, com garantias de futuro. Não é moral fazer nascer filhos sem condições de sustento nem de educação, que irão aumentar a marginalidade e a criminalidade que já está a tornar-se incómoda.
A Decisão do TEDH (400)
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