sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Exemplos bons ou maus? 050920

(Publicada no Metro em 20 de Setembro de 2005)

O primeiro-ministro, ao ser vaiado por professores e pais de alunos na Figueira da Foz, disse que os manifestantes estavam a dar um mau exemplo aos estudantes. Mas, se os governantes podem exigir aos professores que sirvam de exemplo aos educandos, é um tema actualmente muito discutível, dado que governantes, autarcas e políticos em geral, de quem seriam esperados bons exemplos, não os dão. Quanto ao exemplo concreto da Figueira da Foz, não se sabe se é bom ou mau. Visto o caso com olhos do tempo da ditadura, é mau, pois não era permitido criticar e muito menos manifestar opinião desfavorável ao Poder. O primeiro-ministro adoptou esta óptica, pelo seu temperamento que tem transparecido em diversas atitudes, por exemplo ao recusar receber uma carta dos sindicalistas presentes na Figueira da Foz, e por ter sido mal habituado, nos dias mais recentes, pela «obediência» dos «chefes» militares que se esqueceram dos seus subordinados que devem defender e se comportaram no bom estilo da «Brigada do reumático» que ficou célebre em Março e Abril de 1974, por ser muito atenta, respeitadora e obrigada, fazendo a respeitosa vénia aos governantes e amordaçando os militares descontentes. Realmente, em ditadura, há que aceitar, obedecer, comer (se houver o quê) e calar. Porém, apesar de todas as atitudes tomadas, o Governo ainda não assumiu que prefere a ditadura.

Mas em democracia, a soberania pertence ao povo e são aplicáveis os conceitos do ora candidato Mário Soares que dizia que as pessoas têm «direito à indignação». Os políticos devem procurar actuar em benefício das pessoas a fim de lhes proporcionarem bem-estar e segurança, com transparência, e explicando que estão a agir segundo esse objectivo. O povo tem de estar esclarecido até porque, ao votar, deve fazê-lo com são critério, tendo em vista os interesses nacionais e não os interesses deste ou daquele candidato ou partido. Se o povo reclama é porque não concorda com os actos dos governantes, segundo aquilo que lhe é dado saber. Por isso, a necessidade de esclarecer e explicar. E, certamente, os primeiro-ministro sabe que não pode tratar os funcionários públicos como trata os militares, com ameaças de processos disciplinares, e que por isso, tem de enfrentar as manifestações e as greves de juizes, polícias, agentes do SEF, etc. Segundo este raciocínio, o de Mário Soares, os professores da Figueira da Foz, deram um bom exemplo democrático aos educandos, mostrando que devem estar esclarecidos e defender os seus interesses, os «direitos, liberdades e garantias», sempre que os virem desrespeitados ou ameaçados. Mas, não tenhamos veleidades, há que manter as coisas dentro dos limites das boas maneiras. E quanto a isto, também nada custava ao primeiro-ministro receber a carta e passá-la ao seu guarda-costas.

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