quinta-feira, 13 de agosto de 2009

«esse» Melícias e o Presidente Saddam. 030215

(Publicado no «Expresso», 15 de Fevereiro de 2003)

Tenho visto muitas vezes num canal da TV o Reverendo Padre Dr. Melícias referindo-se a Sua Ex.a o Presidente dos EUA com a expressão «esse Bush». As pessoas podem ter as suas crenças, as suas convicções, mas não deviam afastar-se de um aceitável nível de racionalidade e de respeito, nas suas afirmações públicas. É impressionante que «esse» Melícias seja tão descortês para com um chefe de Estado, por sinal o maior Estado do Mundo, aliado do nosso país, a quem a Europa deve o facto de nos ter livrado do nazismo, do comunismo estalinista expansionista, do ditador Milosevic, etc.. A Europa não rejeitou o «Plano Marshal» que a reconstruiu depois da guerra.

«esse» Melícias, se é contra a guerra, não está a ser inovador, nem original, nem criativo. O próprio Presidente Bush tem declarado esperar um desfecho pacífico da tensão no Médio Oriente. Mesmo os vizinhos do Iraque, também não querem a guerra, mas anseiam pelo derrube de Saddam.

Será que «esse» Melícias é alérgico à guerra preventiva? Também não está só. Há no país muita gente que idolatra os apresentadores de TV, a qual, agora, não tem pejo em desacreditar a competência, a capacidade e a honestidade dos juízes, dizendo que a prisão preventiva de um presumido pedófilo é uma cabala e que ele é inocente. Mas, por outro lado, há muita gente que diz que os pedófilos, além da prisão preventiva para evitar que continuem a molestar inocentes, devem ser castrados quimicamente pra que as nossas crianças possam viver e crescer felizes. Parece que muita gente de bom senso acha que a segurança é obtida pela prevenção, segundo a doutrina dos ditados «mais vale prevenir do que remediar» e «depois de cavalo morto, cevada ao rabo».

E com o Presidente Saddam, não se trata de uma medida preventiva arbitrária do Presidente Bush contra um inocente, mas de um acto consentâneo com aquilo que se passa no nosso ordenamento jurídico nacional. Saiba «esse» Melícias que o Presidente Saddam já mostrou aquilo de que é capaz: a guerra que desencadeou em 1980 contra o Irão aproveitando a instabilidade que este vivia na sequência da queda do Xá, a invasão do Kuwait quando se viu liberto da derrota que sofreu com o Irão, os massacres dos seus compatriotas curdos e xiitas com armas químicas, a desobediência às resoluções do Conselho de Segurança da ONU, desde a Guerra do Golfo, o abate de todos os que lhe levantam suspeitas, como, por exemplo os seus próprios genros, as ameaças sérias aos vizinhos e aos Ocidentais, etc.

Se «esse» Melícias prefere estar ao lado de Saddam e contra Bush, é um problema seu. Mas nós que procuramos criticar os de um lado e do outro, com racionalidade e sem paixões, ficamos a saber quem é «esse» Melícias e qual o crédito que nos merece. Gostava de saber qual a reacção desse padre se alguém se referisse em termos semelhantes a Sua Santidade o Papa João Paulo II, que, segundo os almanaques, é chefe de um Estado menor do que Chipre em superfície e em população.

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