quinta-feira, 13 de agosto de 2009

A chuva não é causa de acidentes. 030702

(Publicada no «Público», 2 de julho de 2003)

Nos jornais de hoje, encontrei nas primeiras páginas os seguintes títulos «Chuva causa mais de 70 acidentes em Lisboa», «Domingo trágico, oito mortos nas estradas». Uma outra notícia tinha por cabeçalho «acidente no IP5 causa 5 mortos».

O primeiro título é desculpabilizante dos condutores. Na verdade, a chuva não é culpada. Se o fosse, durante o Inverno, Portugal ficaria despovoado devido às vítimas de milhares de acidentes diários.

A causa de tal tragédia reside apenas e somente nos automobilistas, na sua imperícia, imprudência, incapacidade para dominar o veículo e falta de civismo, colocando em perigo a sua vida e a dos outros utentes da estrada. Devem ter sempre presente que, se o piso está molhado, a aderência é diferente de quando está seco e, por isso, o estilo de condução tem forçosamente de contar com as condições da estrada. O mesmo se passa quando há pouca visibilidade, devido a nevoeiro, período nocturno, com sol baixo, etc.

Se, em condições normais, com piso seco se pode transitar a 90 Km/h, quando chove, pode ser considerado excessivo, em certos locais ultrapassar os 40 Km/h. Compete ao automobilista determinar a melhor forma de conduzir, respeitando-se a si, aos seus passageiros e aos outros utentes.

Já que todos gostam de se comparar aos campeões de fórmula 1, recordo que estes na recta principal do circuito chegam a ultrapassar os 300, mas reduzem noutros locais para velocidades muito inferiores, de forma adequada, sensata e segura. Se está de chuva, conduzem de forma mais cautelosa e com pneus apropriados. E têm cuidado com os pneus e o estado de funcionamento do carro, indo às boxes sempre que necessário. E isto, na disputa de uma prova que os obriga a circular nos limites da segurança porque um milésimo de segundo pode significar vários pontos na classificação. E mesmo assim, apesar da grande perícia, da segurança do carro, das protecções laterais da pista e das escapatórias, ocorrem acidentes.

Seria bom que a Prevenção Rodoviária, em vez de continuar a gastar milhões em cartazes que nada de concreto ensinam aos menos capazes, explicasse de forma clara e explícita a forma mais adequada de conduzir com segurança e evitar acidentes.

A chuva não é a causa. Esta reside na cabeça dos condutores.

Sem comentários: