quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Democratas à portuguesa. 041112

(Publicada em «O Independente», em 12 de Novembro de 2004)

Tive de passar uns dias longe do meu ambiente habitual e não me foi fácil acompanhar as notícias com a regularidade que desejava. Mas, do pouco que vi e ouvi sobre o mundo, fiquei chocado com a falta de lógica de alguns «intelectuais» portugueses que se dizem democratas.

Criticam o Presidente Bush dos erros que, segundo eles, cometeu na política externa. Nada há a objectar contra isso. Ninguém é perfeito; Bush não o é, e cada um tem o direito de discordar dele. Não deve, porém, esquecer-se que foi eleito, escolhido, democraticamente pelos americanos para dirigir o seu país, a maior potência mundial, isto é, para defender os «interesses nacionais permanentes» do seu povo.

Agora, os americanos decidiram, novamente em termos democráticos, reelegê-lo para dirigir por mais quatro anos os destinos dos Estados Unidos. Ora isto leva esses «intelectuais» deste pequeno e pobre país do extremo oeste da Europa a criticar, já não apenas Bush, como os americanos em geral. Perante tal crítica antidemocrática e tal falta de respeito pelo direito democrático de um povo escolher o seu Presidente, surge a interrogação: será que os eleitores americanos, são julgados pouco dotados intelectualmente e, antes de votarem, deviam pedir parecer aos «intelectuais» portugueses? Ou será que esses «palermas» que se consideram intelectuais deviam respeitar a vontade livremente expressa dos eleitores, sejam eles portugueses, espanhóis, ucranianos ou americanos? Democracia é isso mesmo, respeitar os votos dos cidadãos. E não faltam razões para respeitar a capacidade de um povo que sempre viveu em democracia e de onde vêm as grandes inovações científicas e tecnológicas, como a Internet, os computadores, etc, onde há mais cientistas com o Prémio Nobel, mais medalhas olímpicas, etc., etc.

Mas provavelmente esses «intelectuais» lusitanos, não hesitam em achar democraticamente válidos os 98 por cento obtidos por Fidel Castro, Saddam Hussein, Kim Jong Il, Muamar Khadafi, Bashar al-Assad, etc.
Mal vai a sociedade em que aparecem uns tipos com direito de antena que apenas papagueiam a palavra democracia e que defendem tudo o que a ela se opõe, porque não lhe compreendem o verdadeiro significado. Não os julgo por isso, mas preferia que não forçassem a imposição das suas ideias de detentores únicos da verdade universal. É que, apesar dos seus muitos defeitos, os americanos têm muitas lições a dar-nos sobre democracia desde os tempos em que esboçaram a sua «Constituição» e o seu regime democrático. As origens da democracia americana são muito bem explicadas no trabalho da Professora Susan Dunn, com o título «Sister Revolutions, French Lightning, American Light, ed Faber and Faber, Inc, 1999. Talvez lhes seja útil passar os olhos por esta obra.

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