quinta-feira, 13 de agosto de 2009

CEMGFA dará força ao associativismo militar. 030810

(Publicada no «Público», 10 de Agosto de 2003)

Na época em que vivemos e em que, pelo menos teoricamente, é privilegiado o direito do cidadão à liberdade de expressão, deixando de haver crimes de opinião, respeita-se o velho princípio de que «errar é humano», o que equivale a dizer que não há ninguém que não esteja sujeito à crítica dos cidadãos. Até os meritíssimos juizes aceitam ser criticados.

Porém, a última intervenção pública do CEMGFA mostra que a mais alta autoridade da hierarquia das Forças Armadas não gosta que os pensionistas da CGA, mesmo que tenham sido generais de quatro estrelas, se expressem publicamente sobre atitudes menos correctas na ligação dos políticos com as FA.

Realmente, tais críticas deviam ser restritas aos responsáveis hierárquicos. Era esse o argumento que até há poucos anos me levava a não concordar com a criação de sindicatos militares porque os verdadeiros defensores dos elementos castrenses seriam (teoricamente) os respectivos comandantes. Porém, a realidade é outra. O oficial que quer fazer carreira sabe que tem de ser bem visto pelos escalões superiores, porque são eles que sobre ele emitem informações, que lhe conferem louvores e condecorações que o catapultam aos mais altos cargos. E lá no topo, têm que colher o beneplácito dos políticos caso aspirem ao generalato.

E o actual CEMGFA é disso exemplo. Pretende «pôr em sentido» os antigos CEMEs. Ora eles nada mais estão a fazer do que analisar a situação crítica que esteve na origem da demissão do General Silva Viegas. Ora, se o CEMGFA não gosta de sindicatos nem de atitudes públicas dos ex-CEMEs, porque razão não se antecipou a dizer o que se estava a passar? Seria uma atitude dessas que demonstraria aos militares que não precisam de sindicatos nem de outras formas de se manifestarem, por que os seus interesses estariam bem defendidos pela hierarquia legítima. A propósito de perda de confiança, temos de ter presente que os militares só avançam eficientemente para operações que envolvem risco de vida se tiverem confiança no seu comandante. A confiança ética tem que ser mútua.

É que hoje não se pode contar com a obediência cega, mas sim com o raciocínio esclarecido daqueles de quem o país espera que arrisquem a própria vida para a defesa dos interesses nacionais.

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