quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Ainda o caso Le Pen

Depois de registar uma meditação sobre as reacções aos resultados da 1ª volta das eleições presidenciais em França, apareceram diversas opiniões na comunicação social. Todos ficaram preocupados com os votos recebidos por Le Pen. Mas não foram ao fundo das razões desse «terramoto» político.

Dizem que a população tem medo da insegurança e da violência relacionada com os imigrantes, da perda de soberania advinda da integração na União Europeia. Mas não dizem claramente que os votos fugiram do centro, dos partidos que, tradicionalmente, alternam no poder, e foram para os extremos do quadrante político. Os eleitores estão cansados dos habituais detentores do poder, perderam a confiança naqueles que os têm governado.

Porquê essa falta de confiança, essa desilusão, esse desencanto? A resposta não é fácil mas passa pela falta de competência, de prestígio, de carisma dos políticos actuais. É isso que está por trás das curtas estadias no poder. Poucos, em países democráticos, se aguentam mais de dois mandatos. O povo não os quer.

Outro factor assenta na falta de interesse pelo país real, pelos problemas que preocupam os eleitores. Ouve-se, muitas vezes na TV, pessoas que se queixam de problemas locais ou regionais por resolver, e dizem que os políticos foram lá vê-los durante as campanhas eleitorais, fizeram promessas de rápida resolução, mas depois esqueceram-se. O povo sente-se abandonado, ignorado, esquecido desprezado e é apenas usado como origem de votos nas eleições. E esses sentimentos levam à abstenção nas eleições, porque «os políticos são todos iguais e não há escolha possível», ou dão o seu voto a partidos dos extremos, ou da direita ou da esquerda.

Recordo-me de ter lido em «Sister Revolutions» de Susan Dunn, que nos primórdios da revolução norte-americana que deu origem aos EUA, os dinamizadores do processo revolucionário defendiam que os políticos devem estar convencidos de que estão a prestar um serviço público e devem evidenciar uma integridade exemplar. Devem orientar-se permanentemente pelo bem público, pelo benefício da comunidade.

Mas a realidade actual evidencia o contrário. Os políticos procuram colher o máximo benefício dos cargos que ocupam, a corrupção é generalizada, assim como os favores aos amigos e familiares. Por isso perderam o prestígio perante os eleitores e estes retribuem com a recusa de lhes conferirem confiança e crédito.

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