quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Acidentes rodoviários. 011126

(Para a revista «XIS», 26 de Novembro de 2001)

Nas nossas estradas, o drama continua ceifando vidas, deixando muita gente estropiada, causando prejuízos pelo material perdido, pelas vidas estragadas a precisarem de tratamento e de cuidados.

Os «responsáveis» não têm conseguido ou querido analisar seriamente as causas desta dramática situação crónica e de, a partir daí, adoptar as medidas mais adequadas. Em vez disso, arrastados por interesses obscuros, perdem-se em fogos fátuos, muito mediáticos, altamente custosos, mas de comprovada ineficácia.

Há poucos anos, segundo eles, a causa principal dos acidentes residia no parque envelhecido e no mau estado dos veículos. A partir daí, apareceu o negócio das inspecções periódicas e o subsídio à troca de carros velhos. O resultado está bem visível nas estatísticas que continuam a colocar Portugal na cauda dos países civilizados. Portanto, o problema não estava (só) aí.

Entretanto apareceram cartazes, de custo elevado, e de uma também elevada vacuidade e ineficácia, tais como: «a segurança rodoviária somos nós», «seja prudente, evite o acidente», «se conduzir não beba», etc. Palavras vagas que não têm explícita uma mensagem prática e esclarecedora que seja interiorizada por aqueles que dela necessitam.

Agora, continuam a ser esquecidas as principais causas dos acidentes – a estrada, a sinalização sem critério nem credibilidade, a falta de civismo, a incapacidade física, psico-técnica de muitos condutores, a incompetência de jovens condutores para dominarem as potentes máquinas que têm nas mãos, a falta de sentido das responsabilidades (o seguro cobre tudo!), etc. – e cai-se no erro de concentrar a «prevenção» na taxa de alcoolemia. E, por artes do demónio ou de algum grande humorista, faz-se uma interpretação abusiva das estatísticas. Fazem de nós estúpidos.

Ora vejamos. Se, dos acidentes, apenas 40 por cento têm vestígios de álcool no sangue, não se pode concluir que a causa dos acidentes seja o álcool. Então que dizer dos 60 por cento sem vestígios? Por esse raciocínio, parece que é mais perigoso conduzir sem os efeitos do álcool !

E que dizer, pela mesma ordem de ideias, do perigo de conduzir vestido? Pois se forem feitas estatísticas completas, concluir-se-á que 100 por cento dos sinistrados iam vestidos!! E não há dúvidas de que estes 100 por cento são um número muito superior aos 40 por cento com vestígios de álcool. Também se pode fazer igual pergunta sobre o «perigo» de ter comido nas seis horas anteriores ao acidente, pois isso também deve ter acontecido a perto da totalidade dos acidentados. E o perigo de 100 por cento dos carros circularem sobre rodas com pneus ?
Etc. etc.

Era bom que se acabasse com demagogias que não convencem ninguém nem vão resolver o problema. Sejamos honestos e sérios nas tentativas de mentalização das pessoas. E, para ser sério, tem de se começar pelo estudo dos variados e complexos factores causais do drama das estradas. E, como a maior parte das causas é de solução muito demorada, insista-se, desde já, numa fiscalização rigorosa e persistente dos condutores.

Tenhamos presente que não é feito exame à capacidade de reflexos de visão estereoscópica e a deficiência neste aspecto traz dificuldades de avaliar a que distância está a curva, a lomba, o obstáculo e a velocidade a que o outro circula e, por isso, é fundamental para a decisão de ultrapassar e para a forma de executar essa manobra que, quando mal efectuada, leva tanta gente inocente desta para melhor.

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