sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Acabar com as desigualdades. 050324

(Publicada no Público em 24 de Março de 2005)

Embora as teorias sociais de Karl Max estejam desactualizadas e desacreditadas devido à forma desajeitada como foram aplicadas em países de características diferentes dos pressupostos pelo filósofo, o certo é que continua a verificar-se haver elevado grau de conflitualidade potencial nos Estados em que as desigualdades sociais são mais acentuadas. Insere-se nesse facto a preocupação do Presidente Sampaio que, nas suas declarações públicas mais recentes, tem exercido uma louvável acção didáctica no sentido de «acabar» com as desigualdades e com as situações de exclusão devidas à pobreza.

Reduzir a pobreza e pôr fim às desigualdades é uma intenção isenta de qualquer polémica, mas a grande questão está na solução adequada que resolva o problema de forma sustentada, a longo prazo. Foi já experimentado o «rendimento mínimo garantido», mas não faltaram críticas e denúncias de abusos. Há várias espécies de subsídios, mas também não escapam a críticas e a abusos. Dar esmola pode resolver um problema pontual, a curto prazo, mas não dignifica quem a dá nem quem a recebe e não constitui uma verdadeira solução definitiva. Confúcio dizia que, para matar a fome a um pedinte, não se devia dar-lhe um peixe mas sim dar-lhe uma cana e ensiná-lo a pescar. É o que hoje dizem os entendidos quanto à formação profissional. Há que ensinar as pessoas a produzir riqueza. Se esta não for produzida, não existe e, obviamente, não poderá ser distribuída. Por outro lado, alimentar com subsídios quem nada produz, poderá ser um aliciante à inactividade, ao ócio e a outros males advenientes.

Há que apresentar à sociedade os melhores modelos a seguir para se obter o desenvolvimento do país que contribua para o aumento do conforto e do bem-estar da população. E, com essa finalidade, será de esperar que no próximo 10 de Junho, em vez de intelectuais, de artistas de vários sectores culturais e de desportistas, se condecorem aqueles que mais poderão contribuir para esse objectivo, como sejam os empresários que mais empregados têm (luta contra o desemprego), aqueles que mais impostos pagam (luta contra o défice orçamental e a fuga ao fisco) e os que mais exportam (luta contra o défice da balança comercial).

A cultura e o desporto têm um lugar importante na sociedade mas, no actual momento, para coerência com as salutares preocupações presidenciais, há que dar prioridade aos factores que contribuam para a produtividade de todos, trabalhando por contra de outrem ou por conta própria, assente em adequada formação profissional, por forma a que se crie rendimento e este possa ser distribuído pelos mais necessitados.

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