quinta-feira, 13 de agosto de 2009

O civismo faz forte a fraca gente. 030517

O civismo faz forte a fraca gente
(Publicada no «Público», 17 de Maio de 2003)

Fui convocado para um almoço de convívio dos combatentes da Companhia de Caçadores 426, que, além da habitual missa pelos que já tombaram durante a missão ou posteriormente, consta da colocação de uma placa no quartel de onde, há 40 anos, partimos e onde tínhamos dado os primeiros passos em conjunto.

É muito interessante presenciar o entusiasmo, a amizade e a alegria que transparece em todos os presentes, por se encontrarem de novo. Trazem os filhos e os netos. Trata-se de um fenómeno que merece ser analisado por psicólogos e sociólogos, este que nesta época do ano se repete em muitos locais do país.

Pelo contrário, é chocante que um indivíduo tenha escrito uma carta ao director de um semanário em defesa dos desertores e em que se confessava cobarde por não ter desertado. Nada tenho a opor a que esse indivíduo se sinta ideologicamente na obrigação de fazer uma autocrítica pública, que teria sido politicamente correcta durante o Prec. Mas não posso aceitar que, com isso, insinue que milhares de Homens nossos concidadãos, muitos deles autores de actos de grande heroicidade, foram cobardes. É uma ofensa inaceitável.

Para quem assim pensa, lembro que o ser humano é por natureza selvagem, egoísta e agreste e que é a civilização, com as regras necessárias à vida em sociedade, que o torna tolerante, disciplinado e generoso para as causas colectivas.

Numa comunidade, por mais democrática que seja, as grandes decisões não cabem aos cidadãos individualmente. Há os altos representantes que decidem, em nome dos interesses colectivos, cabendo às pessoas, individualmente, acatar essas decisões. Esse civismo, o acatamento das leis torna fortes os povos. Os ex-combatentes, cumpriram, por vezes com sacrifícios incomensuráveis, esse dever de civismo, em defesa daqueles que eram considerados interesses nacionais vitais. E disso estão orgulhosos, quando analisam a forma como cumpriram a missão que lhes fora cometida, com a óptica dessa época. E é esse sentimento que os leva a reunirem-se com amizade e entusiasmo, aos olhos de todos, sem o mínimo de ressentimento.

Não são vozes como as do leitor atrás referido que irão diminuir o movimento que nesta época do ano reúne tantos ex-combatentes, pois estes estão bem cientes de que o patriotismo e o civismo tornam fortes as fracas gentes.

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