quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Militares fardados ou à civil? . 030411

(Publicada em «O Independente», 11 de Abril de 2003)

Em 4 de Abril, vários jornais diários deram relevo ao requerimento de Manuel Alegre relativo ao uso do uniforme por militares que na TV comentam a guerra no Iraque. Tal realce mostra que o requerimento fere o bom senso e a normalidade. O que é normal não é notícia!

Duvidei que tal atitude fosse do poeta Alegre, ou do deputado corresponsável pelas cheias do rio Águeda no início do ano, ou do cidadão Alegre triste por ter visto inundados os baixos do palacete da sua família em Águeda e que culpava disso o Estado a cuja estrutura superior pertence o deputado do mesmo nome.

A propósito, um amigo perguntou-me se sabia a diferença entre a reacção de um iraquiano em Paris e a de um português em Lisboa (ou Coimbra) quando sabe que rebentou a guerra no seu país. Não atinei na resposta: o iraquiano corre para o seu país para defender a sua Pátria; o português corre para Paris (ou Argel) para defender a sua pele.

Um poeta tem direito às chamadas liberdades poéticas, mas um deputado devia saber que um militar está sempre disponível para o serviço e tem vários uniformes: para combate, para o serviço interno da unidade, para «passeio» (o n.º 1) e para cerimónias de gala. Conheci militares que não tinham fato civil, pois usavam o uniforme adequado a cada momento da sua vida. Os militares de carreira amam o seu uniforme. Serve-lhes de mortalha. Só hesitam em usá-lo em público quando os seus concidadãos não se mostram merecedores do sacrifício da vida que juraram solenemente. Não se passa o mesmo com os médicos, que usam a bata apenas, por questões de higiene, no exercício da função. E os deputados não têm uniforme, porque se o tivessem e este fosse adequado a cada situação, certamente os veríamos ocasionalmente no hemiciclo em pijama, que tornaria mais cómodo o dormir.

Também ouso recordar ao Sr. deputado que, diferentemente de qualquer profissão, os militares usam um Bilhete de Identidade que «substitui para todos os efeitos legais o B.I. Civil ( art.º 131.º do Dec-Lei n.º 34-A/90)».

Por tudo isto, os jovens «oficiais superiores» que aparecem na TV estão legalmente, em concordância com os regulamentos, usando o uniforme a que têm direito em qualquer momento da sua vida. A questão é outra. Talvez doa aos manifestantes anti-americanistas e pró-Saddam ouvir as suas opiniões totalmente apolíticas, restritas aos aspectos técnicos em que evidenciam muita competência, apesar de várias rasteiras que lhes procuram passar, como vi suceder com um «sábio» do BE. Ao Sr. Alegre deve ter custado verificar que os militares, não sendo poetas, são pessoas que se expressam correctamente, com clareza, precisão e concisão, são bem informadas, tecnicamente bem preparadas, e têm uma postura que deve ser orgulho de todos os portugueses amantes da sua Pátria.

É pena que a quem tem valor muita gente atire pedras, mesmo os poetas, e que os poetas só esperem aplausos aos seus sonhos e devaneios.

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