(Publicada no Diário de Notícias de 18 de Fevereiro de 2004)
Após dias de solidariedade desportiva entre os diversos clubes, por motivo do falecimento do jogador Feher, surgiram inesperadamente, no domingo passado, em Guimarães desacatos inquestionáveis.
Apareceram logo muitas vozes a condenar o sucedido e a pedir um policiamento mais intenso. Na mesma linha de emoções, há quem sugira leis mais vigorosas para acabar com as mortes nas estradas e com a violência e a insegurança urbana. É a mentalidade dos nossos políticos: quando surge um problema, em vez de se fazer cumprir a lei que lhe é aplicável e foi infringida, corre-se logo a puxar da caneta e a fazer nova lei. Para quê? Quem ignorou a anterior não acatará a nova. Isto vê-se em todos sectores nacionais.
Penso que não deve ser esse o caminho a seguir. Para quê mais leis? Para quê mais polícias? se os que estão presentes não são respeitados? O problema não consiste nem na falta de lei nem na falta de polícia; está, sim, na falta de autoridade. Quando não há autoridade efectiva, há o caos. A realidade é que ninguém quer ser considerado mau e, por isso, fecha os olhos e deixa andar.
Os políticos não querem perder votos, os tribunais são lentos e talvez demasiado meticulosos (na Suécia já está em julgamento o assassino da ministra dos NE, nos EUA já está em julgamento o cantor Michael Jackson), a polícia vê-se desautorizada quando leva um delinquente a tribunal e conclui que é mais fácil e cómodo não intervir.
E, assim, sucedem-se impunemente os roubos, os condutores sem carta e sem seguro, as violências nos campos de futebol, a fuga ao fisco pelas profissões liberais e trabalhadores por conta própria.
A democracia é um regime bom para povos civilizados que sabem o significado do civismo, da liberdade, da responsabilidade e do respeito pelos outros. Nós por cá, não sabemos nada disso. Falta-nos autoridade, e esta só existe se for exercida na medida e pela forma mais conveniente.
DELITO há dez anos
Há 4 horas
Sem comentários:
Enviar um comentário