quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Escravatura na Assembleia da República. 040824

(Publicada em A Capital em 24 de Agosto de 2004)

Soube-se há dias, através de um comunicado da entidade patronal, que na Assembleia da República há trabalhadores (deputados) que são obrigados a trabalhar numa idade avançada e em condições de saúde incompatíveis com as tarefas «profissionais» a que são obrigados. Imagine-se que, pessoas em reconhecidas condições de incapacidade física são obrigadas a viajar em serviço, necessitando de, para isso, ser acompanhadas por pessoas, pagas pelo seu bolso, para lhes prestarem o apoio necessário, e que apesar das suas debilidades, em vez de fazerem a viagem em classe de luxo, com mais comodidade, têm de se misturar com a mais baixa plebe.

Lamenta-se que estes trabalhadores estejam em condições muito mais desfavoráveis do que os das Forças Armadas e das Forças de Segurança, por estes saírem do serviço activo quando atingem o limite de idade e, quando o seu estado de saúde os torna inaptos para o serviço, serem presentes a uma junta de saúde que os pode julgar incapazes para o serviço. Julgo que os senhores deputados, verdadeiros representantes do povo, deviam beneficiar de um estatuto semelhante e não serem obrigados a viajar de avião quando estão incapazes. E também, para mais se dignificarem perante os seus eleitores, deviam ser objecto de uma avaliação rigorosa dos seus conhecimentos concretos acerca dos verdadeiros problemas do país real.

O bom povo português lamenta a actual situação de exploração patronal dos seus deputados, até porque o orçamento da AR foi aumentado de uma percentagem muito significativa, enquanto os funcionários públicos viram os seus salários congelados nos últimos dois orçamentos (do governo PSD). Pelo contrário, seria de prever que o orçamento da AR baixasse porque os deputados se sentem bem nas classes mais económicas dos aviões, prescindindo voluntariamente, de viajar nas mais caras. Desta forma, a sua humilde colaboração com a política financeira do aperto do cinto instaurada pela Sr.ª F. Leite merece admiração dos portugueses mais atentos às notícias, principalmente por estar em contradição com a contratação, em quantidade industrial, de novos assessores dos governantes, num Governo já por si tão numeroso.

Procurando juntar as peças de «puzzle» tão complexo, temos que encarar com o melhor humor possível estas tristes realidades, para não cairmos em profunda depressão, de que já se vêm sintomas evidentes pelo país fora.

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