(Publicada no «Público» de 23 de Março de 2004)
O mundo tem vivido sob uma pressão de pavor e de terror sem precedentes. Foi o 11 de Setembro, os atentados de Casablanca, Bali, Jacarta, Quénia, Filipinas, Paquistão, Moscovo, Madrid. Perante uma ameaça desta amplitude, não foi encontrada defesa eficaz, nem de dissuasão nem de retaliação.
Mas agora surgiu a luz ao fundo do túnel. Mário Soares, o homem que se considera o mais credível do nosso País, formulou a solução. Ovo de Colombo. Segundo ele, o terrorismo elimina-se com o diálogo. Ele tem experiência, pois dialogou com os «terroristas» das nossas ex-colónias e deu a independência a estas. Tudo na perfeição!
Mas é de lamentar que tenha, de forma tão leviana, ofendido a memória de Agostinho Neto, Holden Roberto e Jonas Savimbi, Amílcar Cabral, Luís Cabral e Aristides Pereira, Samora Machel, etc., os quais, de cara descoberta, contactáveis para diálogo directo ou através de mediadores, apoiados aberta e publicamente por países credíveis a nível mundial, lutavam pela independência dos seus países, contra o colonizador, pela liberdade e um futuro melhor dos seus povos. Estes homens não devem ser ofendidos por quem quer que os compare aos actuais bandidos ocultos, totalmente clandestinos, cujo objectivo confessado é destruir os «inimigos de Alá», os ímpios ocidentais que cometem o «crime» de produzir bem-estar, de respeitar os direitos humanos, incluindo os das mulheres, e de criar leis que permitam uma sã convivência para melhor fruição do desenvolvimento das tecnologias.
E dessa experiência, apesar de Mário Soares a apontar como exemplo a seguir, não resultou, para qualquer das partes, um benefício nítido, a não ser a independência formal. A democracia não entrou com a independência: repare-se na sucessão de presidentes «democráticos» e no tempo durante o qual se agarraram ao Poder, e da forma como foram apeados, do número de vidas perdidas por violência de origem política, da ausência de desenvolvimento e do alastrar da fome apesar da riqueza em recursos naturais. Por outro lado, para o antigo colonizador resultou o ónus continuado de ceder técnicos e militares, de perdoar dívidas, etc.
Parece, assim, que a sugestão do homem que recusa diálogo com o actual Ministro da Defesa Nacional e com o advogado Pedro Namora, acabará por se traduzir em fazer todas a cedências à Al-Qaeda. Certamente, o Presidente Bush entregaria a chave da Casa Branca a Bin Laden, o mesmo fazendo Blair com a chave do n.10, Putin com a chave do Kremlin, etc. Zapatero já começou a pôr em prática a cedência à Al-Qaeda e já recebeu a resposta traduzida por uma trégua condicional e temporária, o que o torna refém de ulteriores exigências. E, de cedência em cedência, ...
Será isto que Mário Soares deseja? Satisfazer os desejos declarados de grupos islamistas pretenderem destruir todos os que não satisfaçam os seus padrões de fundamentalismo e extremismo, sejam ocidentais ou mesmo islamistas de facções diferentes? E depois regressa tudo ao estilo de vida defendido pelo Profeta, no século VII, pesar de já estarmos no século XXI.
Que Deus nos proteja da ira de Bin Laden e da «boa vontade» de Mário Soares.
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