(publicado no «24 horas», 8 de Julho de 2002)
Não me sinto nada feliz com o espaço concedido pelos média às tricas dos dirigentes da selecção nacional de futebol e à falta de autodomínio do João Pinto.
O que aqueles dirigentes dizem uns dos outros deve ser levado a sério, porque eles conhecem-se bem. E, portanto, não nos merecem a mínima consideração. Não merecem uma linha nos jornais. São o que são, ponto final.
Há muitos outros assuntos muito mais importantes no país que merecem a reflexão de todos nós: o controlo, a selectividade e a integração da imigração, a escolaridade que nos tire do último lugar europeu nos conhecimentos essenciais, o apoio a idosos, as condições que conduzam ao desenvolvimento económico, etc. Não é preciso chafurdar nas aldrabices dos futeboleiros para encher os jornais.
Mas, infelizmente, os assuntos fundamentais não são levados a sério. Não há o sentido da responsabilidade e da responsabilização. As pessoas não recebem os prémios ou as penalizações correspondentes ao seu grau de desempenho. São disso exemplos os casos, agora tão falados, da selecção de futebol, dos acidentes rodoviários, dos acidentes de trabalho, etc.
Os países só se desenvolvem com o culto por valores morais, em que a responsabilização tem um lugar de destaque. Cito apenas dois casos. Na Coreia do Sul, o ex-Presidente Chun, foi condenado à morte, em 1996, e o ex-Presidente Roh, na mesma data, foi condenado a 22 anos de prisão porque, apesar de terem liderado o país em momentos de grande salto em frente na evolução económica, cometeram erros de corrupção (que no nosso país, certamente, nem sequer iriam a julgamento). Outro exemplo vem da Nova Zelândia, um país cuja economia depende quase totalmente da agricultura, da pecuária e da industrialização dos produtos originados por estas actividades e que tem um dos PIB «per capita» mais elevados do mundo. Aqui, o sentido da responsabilidade conduz a que o Governador do Banco Central seja demitido, de imediato, quando a inflação subir acima dos 2%.
Assim, com trabalho sério, boa produtividade, grande competitividade e apurado sentido da responsabilidade, a todos os níveis, os países conseguem os chamados «milagres económicos».
E nós? Continuaremos a ter à frente do nosso futebol profissional pessoas da pior qualidade (segundo palavras delas próprias)? E noutros sectores? Não será já o momento de sair da crise com pequenos actos significativos para se recuperar a moralidade no país?
A Decisão do TEDH (400)
Há 3 horas
Sem comentários:
Enviar um comentário