Num convívio de amigos em 27 de Janeiro um dos presentes sugeriu que cada um preparasse uma lista com os erros cometidos após o 5 de Outubro para serem tema de conversa no convívio deste mês. Achei difícil porque mais do que classificar de erro acontecimentos de tantas dezenas de anos, conviria analisar as circunstâncias em que foram tomadas decisões, porque, embora hoje possam ser consideradas erradas poderiam ter sido as melhores perante os factores vigentes no momento.
Mas hoje, o artigo de António Freitas Cruz, que a seguir se transcreve, aponta deficiências substanciais de que ainda hoje sofremos as consequências, em grande parte agravadas pelas revoluções subsequentes, de 28 de Maio e de 24 de Abril. Por isso deverá haver cuidado nos discursos para serem realistas e analíticos e não se traduzirem em propaganda e lavagem de erros graves, que possa interessar a alguém com carência de escrúpulos.
Os bons avisos da República
Jornal de Notícias, 7 de Fevereiro de 2020. Por António Freitas Cruz
Que fique bem entendido: não sou monárquico, nunca fui e, de resto, acho que não há em Portugal uma questão de regime. Na verdade, o que me importa é a Democracia, o Estado de Direito, o Estatuto da Liberdade. Ora, nos 16 anos da I República não se vislumbra a concretização de nenhum destes três objectivos, o que me faz considerar desproporcionado o estilo das comemorações, a correrem entre o eufórico e o glorioso. Deixem-me dizer que os discursos até agora ouvidos me pareceram meras tentativas de branqueamento da História.
De facto, se há aspectos em que o regime iniciado há 100 anos se não recomenda é precisamente naqueles três: porque a Democracia só se vai construindo fazendo alguma coisa por ela, o que não aconteceu; porque o Estado Direito também vai nascendo se houver vontade política, e não houve; e porque a Liberdade dos cidadãos tem que ser uma preocupação permanente, e nunca foi.
Democracia só a alcançamos 70 anos mais tarde. Quanto ao Estado de Direito e à Liberdade, devemos reconhecer que já tiveram, depois disso, melhores dias…
Os que se reclamam da "ética republicana" não conseguem ocultar a série negra de perseguições e assassinatos (até de correlegionários) e o descalabro das finanças. A lendária honestidade e a generosa entrega aos ideais de muitos republicanos não chegam para amenizar o desastre.
Deu no que deu: a emergência de um "salvador" imediatamente acolhido por um povo farto de desordem.
É por isto que não entendo os discursos apologéticos do regime e dos homens de 1910, apontando-os como exemplos a copiar hoje. Parece-me que seria mais útil apontá-los como sérios avisos.
Mas hoje, o artigo de António Freitas Cruz, que a seguir se transcreve, aponta deficiências substanciais de que ainda hoje sofremos as consequências, em grande parte agravadas pelas revoluções subsequentes, de 28 de Maio e de 24 de Abril. Por isso deverá haver cuidado nos discursos para serem realistas e analíticos e não se traduzirem em propaganda e lavagem de erros graves, que possa interessar a alguém com carência de escrúpulos.
Os bons avisos da República
Jornal de Notícias, 7 de Fevereiro de 2020. Por António Freitas Cruz
Que fique bem entendido: não sou monárquico, nunca fui e, de resto, acho que não há em Portugal uma questão de regime. Na verdade, o que me importa é a Democracia, o Estado de Direito, o Estatuto da Liberdade. Ora, nos 16 anos da I República não se vislumbra a concretização de nenhum destes três objectivos, o que me faz considerar desproporcionado o estilo das comemorações, a correrem entre o eufórico e o glorioso. Deixem-me dizer que os discursos até agora ouvidos me pareceram meras tentativas de branqueamento da História.
De facto, se há aspectos em que o regime iniciado há 100 anos se não recomenda é precisamente naqueles três: porque a Democracia só se vai construindo fazendo alguma coisa por ela, o que não aconteceu; porque o Estado Direito também vai nascendo se houver vontade política, e não houve; e porque a Liberdade dos cidadãos tem que ser uma preocupação permanente, e nunca foi.
Democracia só a alcançamos 70 anos mais tarde. Quanto ao Estado de Direito e à Liberdade, devemos reconhecer que já tiveram, depois disso, melhores dias…
Os que se reclamam da "ética republicana" não conseguem ocultar a série negra de perseguições e assassinatos (até de correlegionários) e o descalabro das finanças. A lendária honestidade e a generosa entrega aos ideais de muitos republicanos não chegam para amenizar o desastre.
Deu no que deu: a emergência de um "salvador" imediatamente acolhido por um povo farto de desordem.
É por isto que não entendo os discursos apologéticos do regime e dos homens de 1910, apontando-os como exemplos a copiar hoje. Parece-me que seria mais útil apontá-los como sérios avisos.
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