quarta-feira, 16 de junho de 2010

Tácticas de diversão

Como aqui tem sido dito repetidamente, uma empresa com dimensão considerável deve ser administrada com visão estratégica desde o investimento inicial, com vista a uma finalidade bem definida, ao produto a fabricar, à qualificação da mão-de-obra, à escolha e manutenção dos equipamentos, ao relacionamento com fornecedores e clientes, à concorrência e ao ambiente social em que se encontra de que resulta o mecenato e o apoio aos operários e famílias, etc.

Por maior razão, gerir um País, que poderá ser comparado a uma grande empresa em que a finalidade é o desenvolvimento da felicidade e bem-estar do povo, da Nação, qualquer decisão deve ser tomada atendendo sempre a tal finalidade e ter em consideração todos os factores envolventes e condicionantes, em íntima coordenação e convergência com as decisões anteriores e as que se seguirão. Trata-se de um mecanismo que deve ser operado com meticulosidade e rigor, para evitar avarias. Deve ser evitada a táctica obnubiladora de varrer para debaixo do tapete, a táctica de diversão , de desviar a atenção do essencial para aspectos marginais que apenas fazem perder tempo e energias e prejudicam as finalidades nobremente pretendidas. É indispensável a definição de estratégias integradas que excluam tácticas casuais, avulsas e descoordenadas.

O fenómeno é abordado nas seguintes frases do artigo de António Freitas Cruz no JN de ontem, «A exploração do futebol»

«Há dias, na imagem de abertura de um telejornal, vi ao lado da "pivot" dois monstros sagrados do arraial mediático: um escritor de sucesso e um antigo primeiro-ministro expulso do cargo com a ajuda da "má moeda". Enfim, dois comentadores multiusos para ocasiões especiais.

Pensei: queres ver que houve grande acontecimento? E houve: nada menos que um treino da selecção do senhor Queiroz. Estiveram os três naquilo 28 minutos, durante os quais não meteram bedelho nem a crise, nem Israel, nem as escolas fechadas - nem nada.»


Tais manobras desviantes de futebol, fado, telenovelas, «casos» judiciais e inquéritos parlamentares, mantêm a população enganada e iludida naquilo que Eduardo Lourenço definia há dias como «excesso de auto-estima» que alterna com momentos de depressão, lamentos e impulsos de insurreição. Parece que ainda somos o País de grande desenvolvimento de há cinco séculos em que se vivia facilmente com as especiarias que chegavam do mundo recentemente descoberto, ou de há 20 anos em que se perdeu a noção da necessidade de trabalhar e produzir porque a União Europeia nos financiaria os luxos e o consumismo.

É urgente dar ouvidos a Ernâni Lopes quando nos diz com muita clareza que é preciso substituir imediatamente uma série de defeitos e erros pelas virtudes que se lhes opõem, aquelas que fazem as pessoas sentir-se honradas, independentes e moralmente ricas. Há que começar já a alteração de mentalidades e procedimentos e isso deve ser iniciado pelo Governo que deve dar o exemplo da dignidade e clareza de propósitos e fomentar a moralização do regime e do País. Todos devemos ajudar dentro das respectivas capacidades, mas o responsável pelo País é, e não pode deixar de ser, o Governo.

Imagem da Internet.

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