Transcrição de artigo de opinião que considero aceitável, mas com uma visão redutora, muito comum em jornalistas, comentadores e muita população menos preparada, o que suscita a NOTA final.
Abstenção, nulo ou voto em branco?
Jornal de Notícias. 02-06-2010. Por Manuel Serrão
Mais de cinco meses depois de Manuel Alegre anunciar a sua disponibilidade para voltar a ser candidato a presidente da República, o Partido Socialista, que nas últimas eleições tinha apoiado Mário Soares contra ele, dispôs-se agora a dar-lhe o seu apoio aparentemente inequívoco. Apesar da Comissão Nacional do PS ter apoiado o pedido de Sócrates na sua larga maioria, poucos são os socialistas que rejubilaram com o facto.
Existem alguns históricos do PS, como José Lello e Vitor Ramalho, que deram conta pública do seu desconforto e de uma forma mais ao menos elegante já deixaram saber que nem farão campanha, nem votarão nele. Muitos outros socialistas anónimos e com responsabilidades no aparelho partidário comungam das dúvidas de José Lello e Vítor Ramalho e provavelmente não estarão dispostos a votar nas próximas Presidenciais naquele candidato contra quem votaram nas anteriores.
Do outro lado da barricada, a posição de Cavaco Silva também não é famosa. Para além de outras questiúnculas que já vêm do passado, a última decisão do presidente de promulgar a lei do casamento entre pessoas do mesmo sexo (e mais do que a promulgação, a pífia explicação com que justificou o acto) também abriram brechas na muralha de aço que a Direita normalmente ergueria na defesa do presidente das suas cores e valores. Mesmo aqueles que defendem que Cavaco Silva foi o primeiro-ministro que mais governou à esquerda desde a época revolucionária de Vasco Gonçalves e Pinheiro de Azevedo, não estavam à espera que, numa questão fracturante como esta, Cavaco Silva abdicasse dos valores que nortearam a sua candidatura com uma justificação de conjuntura. Em último caso, sempre se pode dizer que a discussão parlamentar sobre o veto político do presidente podia ser agendada para um período em que a Assembleia da República já tivesse dado por encerrados todos os seus contributos possíveis para a resolução da crise económica.
Que eu me lembre, vamos ter as primeiras presidenciais em que não há um único candidato que satisfaça de um modo geral o seu potencial eleitorado. Como também não acredito que ainda possam surgir outros candidatos com mais consistência que os habituais e folclóricos candidatos do queijo da serra, a minha grande expectativa consiste em saber o que é que irá aumentar mais nas próximas presidenciais: a abstenção, o voto nulo ou o voto em branco?
NOTA: O autor apenas refere dois candidatos, um já declarado e o outro previsível, mas omite um outro também já declarado, o Dr. Fernando Nobre que, se for eleito, não será certamente pior do que o actual tem sido e será seguramente melhor do que o poeta da Rádio Argel. Trata-se de uma pessoa com excepcional sensibilidade, carinho e respeito pelas pessoas que carecem de apoio, que são vítimas de acidentes ou calamidades naturais. Um coração disponível para os que sofrem em qualquer parte do mundo e, principalmente no seu País se o elegerem.
Esta omissão revela a visão redutora daqueles que não conseguem, imaginar uma saída do pântano a que o regime chegou e estão viciados e deslumbrados por políticos que aparecem frequentemente no pequeno ecrã, mas que já demonstraram a sua incapacidade para eliminarem as causas da crise e do seu agravamento progressivo, mantendo os erros e os vícios dos egoísmos, das vaidades e das ambições daqueles que têm ocupado as cadeiras do poder durante muitos anos. Esses que fazem parte do problema não conseguem ser parte da solução.
É esse espírito de acomodação cega de ovelhas obedientes que bem se evidenciou nas votações por unanimidade da Lei do Financiamento dos Partidos, em boa hora vetada, e na «lei da rolha» no Congresso do PSD, de que os congressistas se disseram arrependidos poucos minutos depois.
Com a mesma gente, Portugal não conseguirá recuperar o atraso, antes o agravará. Fernando Nobre, se for eleito, será o primeiro passo no caminho da renovação, da restauração de Portugal que já foi grande e que poderá reduzir a sua desvantagem em relação aos seus melhores parceiros.
DELITO há dez anos
Há 4 horas
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