sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Fogos florestais agravam perigo de deslizamento

Em todas as organizações, máquinas ou sistemas vários complexos, existe uma interacção, por vezes muito apurada entre as partes do sistema. A Natureza é um sistema demasiado complexo pelo que não devemos descurar esse encadeamento de efeitos. Têm chegado notícias de deslizamentos de terras e de enxurradas, causando elevado número de mortos desaparecidos e feridos, em vários pontos do mundo e, entre nós, não é fácil esquecer o que ocorreu no Funchal. Mas se não esquecemos também, por outro lado, não retiramos daí as lições devidas.

Os grandes fogos florestais que devastaram toda a vegetação em vastas regiões de montanha, deixaram os terrenos fragilizados e com reduzida capacidade para reter a água das chuvas, por deficiente permeabilização em consequência da ausência de vegetação, abrindo caminho às enxurradas e aos deslizamentos. A mesma quantidade de água que, em condições normais, não causaria estragos, agora origina grandes caudais com elevado poder de erosão e o resultado pode ser ainda mais grave do que o ocorrido no Funchal.

Isto conduz o nosso pensamento para as vastas regiões do interior do nosso País vítimas dos fogos florestais que têm ocorrido. O que acontecerá se vierem chuvas torrenciais? O que tem sido feito para reduzir os efeitos negativos? Qual tem sido a acção de conselho e de persuasão dos especialistas e dos defensores da natureza? Qual o grau de consciencialização de governantes e autarcas?

Não se pode evitar as abundantes chuvadas, não se pode impedir que a água escolha as vias mais rápidas para descer, mas devemos não lhe dificultar a marcha, porque a enxurrada derrubará tudo o que encontrar pela frente. Resta-nos limpar as ribeiras e o «leito de cheia». O leito de cheia é constituído pelas faixas laterais das margens utilizadas durante as cheias de grandes caudais. Poderá ser mais ou menos largo conforme a orografia do terreno. Nesse espaço não deve haver obstáculos, fixos ou móveis, que dificultem a passagem da torrente.

Quanto aos fogos florestais, no próximo ano, se houver iguais condições meteorológicas, e entretanto não forem tomadas medidas adequadas para reduzir a carga térmica sobre o solo e se não forem tomadas medidas punitivas que dissuadam os pirómanos e os seus mandantes, poderão verificar-se fogos semelhantes aos deste ano. Não deve ser alimentado pessimismo e derrotismo, mas sim pressionar quem deve adoptar soluções de prevenção, para que as decida já no Outono.

É com antecedência que se decide e se executa a prevenção. Já há alguns anos surgiram notícias de exemplos de medidas eficientes para vigilância da floresta nos Concelhos de Alcains, Mortágua, Góis, Chamusca, Gondomar, entre outros. Certamente, a Associação Nacional de Municípios está a aconselhar todas as Câmaras a seguirem os exemplos dados por aqueles Concelhos e a imaginar algo de melhor. É preciso fazer algo de útil e não cruzar os braços à espera de milagres.

Tudo será admissível, menos cruzar os braços e esperar pelos ditames do destino. Devemos aprender as lições retiradas dos desastres e dos bons exemplos. Os fogos florestais «combatem-se» (previnem-se) a partir do Outono.

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