"Ética republicana"
Jornal de Notícias, 17 de Novembro de 2009, por Manuel António Pina
Mário Soares considera que tudo o que tem vindo a público relacionado com a investigação criminal do caso "Face Oculta" não passa, enquanto questão política, de um "problema comezinho".
Tenho por aí um dicionário de sinónimos e, por via das dúvidas (as palavras têm ultimamente o péssimo hábito mudar de sentido de um dia para o outro), fui ver se "comezinho" continuaria ainda a significar o mesmo. Pelos vistos, continua: significa "banal", "corriqueiro", "trivial", "usual", "vulgar".
É difícil, pois, não estar de acordo com Mário Soares. Um assunto que envolva, como o presente caso, corrupção, tráfico de influências, manipulação de concursos públicos envolvendo trocas de dinheiro e de favores entre gestores de nomeação política e empresários "amigos", e até alegações, sustentadas no despacho de um juiz, de crime de atentado ao Estado de Direito, tornou-se de facto hoje, em Portugal, coisa politicamente "comezinha", "trivial" e "vulgar".
Custa a crer é que alguém como Mário Soares, que tão repetidamente convoca a "ética republicana", reconheça isso sem o mínimo sobressalto ético ou republicano.
NOTA: Hossana!!! A vida pública em Portugal está a clarificar-se a tornar-se transparente., límpida como água corrente em rio não poluído. O decano dos políticos portugueses vem dizer publicamente que entre os políticos é comezinha a prática de tudo isto a que vimos assistindo. Em questões de política não devemos pôr em dúvida a sua douta opinião. Portanto eles todos são o que são!
Mas há um ditado que diz que «ninguém é bom juiz em causa própria». Será esse o caso? Mas não há motivo para receios porque, por cá, a Justiça para os políticos é complacente como certos hímenes, é tolerante, compassiva, permissiva, não funciona como na Coreia do Sul em que o ex-presidente Chun Doo Hwan foi condenado à morte e o ex-presidente Roh Tae-woo foi condenado a 22 anos e meio de prisão, nem como no Peru onde o ex-presidente Fugimori foi condenado, ou como no Japão, ou como em França onde o filho de Miterrand foi condenado por crime no Angolagate, o ex-presidente Jacques Chirac também está a contas com a Justiça, etc.
Pode o Sr ex-presidente português estar descansado, que os juízes não o molestarão nem aos seus colegas de carreira. Aliás são tantos que a Justiça não terá capacidade para fazer o julgamento antes de os crimes comezinhos prescreverem e, entretanto, a Natureza se encarregará de os dispensar de esperarem a leitura das sentenças.
Tudo gente «boa», habilidosa e esperta, constitui um belo exemplo para os portugueses se dedicarem a coisas tão comezinhas mas tão proveitosas. Assim, Portugal se tornará num País promissor e modelo internacional.
Jornal de Notícias, 17 de Novembro de 2009, por Manuel António Pina
Mário Soares considera que tudo o que tem vindo a público relacionado com a investigação criminal do caso "Face Oculta" não passa, enquanto questão política, de um "problema comezinho".
Tenho por aí um dicionário de sinónimos e, por via das dúvidas (as palavras têm ultimamente o péssimo hábito mudar de sentido de um dia para o outro), fui ver se "comezinho" continuaria ainda a significar o mesmo. Pelos vistos, continua: significa "banal", "corriqueiro", "trivial", "usual", "vulgar".
É difícil, pois, não estar de acordo com Mário Soares. Um assunto que envolva, como o presente caso, corrupção, tráfico de influências, manipulação de concursos públicos envolvendo trocas de dinheiro e de favores entre gestores de nomeação política e empresários "amigos", e até alegações, sustentadas no despacho de um juiz, de crime de atentado ao Estado de Direito, tornou-se de facto hoje, em Portugal, coisa politicamente "comezinha", "trivial" e "vulgar".
Custa a crer é que alguém como Mário Soares, que tão repetidamente convoca a "ética republicana", reconheça isso sem o mínimo sobressalto ético ou republicano.
NOTA: Hossana!!! A vida pública em Portugal está a clarificar-se a tornar-se transparente., límpida como água corrente em rio não poluído. O decano dos políticos portugueses vem dizer publicamente que entre os políticos é comezinha a prática de tudo isto a que vimos assistindo. Em questões de política não devemos pôr em dúvida a sua douta opinião. Portanto eles todos são o que são!
Mas há um ditado que diz que «ninguém é bom juiz em causa própria». Será esse o caso? Mas não há motivo para receios porque, por cá, a Justiça para os políticos é complacente como certos hímenes, é tolerante, compassiva, permissiva, não funciona como na Coreia do Sul em que o ex-presidente Chun Doo Hwan foi condenado à morte e o ex-presidente Roh Tae-woo foi condenado a 22 anos e meio de prisão, nem como no Peru onde o ex-presidente Fugimori foi condenado, ou como no Japão, ou como em França onde o filho de Miterrand foi condenado por crime no Angolagate, o ex-presidente Jacques Chirac também está a contas com a Justiça, etc.
Pode o Sr ex-presidente português estar descansado, que os juízes não o molestarão nem aos seus colegas de carreira. Aliás são tantos que a Justiça não terá capacidade para fazer o julgamento antes de os crimes comezinhos prescreverem e, entretanto, a Natureza se encarregará de os dispensar de esperarem a leitura das sentenças.
Tudo gente «boa», habilidosa e esperta, constitui um belo exemplo para os portugueses se dedicarem a coisas tão comezinhas mas tão proveitosas. Assim, Portugal se tornará num País promissor e modelo internacional.
Sem comentários:
Enviar um comentário