Missão de sacrifício
JN. 26 de Novembro de2009. Manuel António Pina
Na gíria do atletismo, chama-se "lebre" ao atleta contratado para puxar pelos outros (levá-los na "roda", como se diz no ciclismo), impondo um ritmo óptimo para obtenção de melhores resultados.
Por vocação, ou porque é o modo como entende as suas funções de governador do Banco de Portugal, Constâncio costuma ser a "lebre" do Governo, aparecendo a apalpar terreno sempre que há medidas restritivas, previsivelmente impopulares, no horizonte orçamental. Por esta altura do ano, quando se prepara o Orçamento, é habitual vê-lo justificar, em adequado socioleto económico, a "contenção", ou "prudência", salarial, eufemismos pios da redução do poder de compra. Desta vez, porém, foi a "necessidade" de aumento dos impostos, que permitiu ao Governo, desmentindo-a de imediato, marcar pontos politicamente. A coisa funciona como os clássicos "polícia mau" e "polícia bom": aos olhos dos eleitores, a bondade política do Governo resulta mais óbvia face à maldade técnica dos anúncios catastróficos do governador. Se o Governo não der uma medalha, ou o tal cargo no BCE, a Constâncio é que não há justiça neste mundo.
NOTA: Como de costuma, incisivo e sintético, o autor aponta o dedo para as manobras usadas pelos políticos manhosos, ilusionistas, enganadores, como qualquer vulgar vendedor da banha da cobra. Mas mais perigosos, porque enquanto o vendedor está só, eles actuam em equipa coesa, apoiados por centenas de assessores e por toda a máquina do Estado tão pesada e cara que nem conseguem controlar o défice. Nem conseguem perceber as contas de merceeiro que passam pela redução das despesas para evitar prejuízos.
Para iludir as mentes mais desprevenidas usam o truque de «distrair o Santo», como diz o amigo Pedroso Marques no seu blogue.
Quanto aos objectivos referidos pelo autor do artigo ,a na última frase transcreve-se um trecho de uma carta publicada nos jornais em 23 de Maio de 2006 que mostra ao ridículo que chega a ostentação de falso rigor e de falsa competência:
Por vocação, ou porque é o modo como entende as suas funções de governador do Banco de Portugal, Constâncio costuma ser a "lebre" do Governo, aparecendo a apalpar terreno sempre que há medidas restritivas, previsivelmente impopulares, no horizonte orçamental. Por esta altura do ano, quando se prepara o Orçamento, é habitual vê-lo justificar, em adequado socioleto económico, a "contenção", ou "prudência", salarial, eufemismos pios da redução do poder de compra. Desta vez, porém, foi a "necessidade" de aumento dos impostos, que permitiu ao Governo, desmentindo-a de imediato, marcar pontos politicamente. A coisa funciona como os clássicos "polícia mau" e "polícia bom": aos olhos dos eleitores, a bondade política do Governo resulta mais óbvia face à maldade técnica dos anúncios catastróficos do governador. Se o Governo não der uma medalha, ou o tal cargo no BCE, a Constâncio é que não há justiça neste mundo.
NOTA: Como de costuma, incisivo e sintético, o autor aponta o dedo para as manobras usadas pelos políticos manhosos, ilusionistas, enganadores, como qualquer vulgar vendedor da banha da cobra. Mas mais perigosos, porque enquanto o vendedor está só, eles actuam em equipa coesa, apoiados por centenas de assessores e por toda a máquina do Estado tão pesada e cara que nem conseguem controlar o défice. Nem conseguem perceber as contas de merceeiro que passam pela redução das despesas para evitar prejuízos.
Para iludir as mentes mais desprevenidas usam o truque de «distrair o Santo», como diz o amigo Pedroso Marques no seu blogue.
Quanto aos objectivos referidos pelo autor do artigo ,a na última frase transcreve-se um trecho de uma carta publicada nos jornais em 23 de Maio de 2006 que mostra ao ridículo que chega a ostentação de falso rigor e de falsa competência:
«Ocorre recordar que, há tempos, o Banco de Portugal fez previsões do défice traduzidas num número com várias casas decimais no que foi criticado como sendo uma obediência cega e inepta à máquina de calcular sem ter em conta que, não passando de estimativas ou aproximações os números dados a esta, o resultado não teria rigor de várias casas decimais, bastando ficar pelas décimas. Na mesma ordem de ideias, os números de partida para os cálculos não precisavam de ir até às unidades, podendo ser arredondados para as dezenas ou até centenas. E tanto assim era que, posteriormente, o BP alterou esse valor, mas continuou com a insensatez das várias casas decimais. Há que ter a noção daquilo que é rigoroso e do que não passa de estimativa.»
Sem comentários:
Enviar um comentário