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Saber manifestar-se
Dois ciclistas iranianos passaram por Lisboa, depois de terem atravessado a Turquia, Grécia, Itália e Espanha e seguem agora para França e daí para a Bélgica, Dinamarca, Noruega, Suécia e Holanda e, se conseguirem os vistos necessários, pretendem ainda pedalar no Canadá, Estados Unidos, América Latina, Japão e China antes de regressar ao Irão.
Segundo as suas palavras, "o objectivo desta viagem é a amizade e as relações cordiais entre todos os países. Queremos que o mundo preste atenção a estes valores". Querem alertar pessoas e instituições dos países por onde passam para a necessidade de valorizar a paz, a amizade, um estilo de vida saudável e a defesa do ambiente.
Esta é uma forma civilizada para divulgar uma ideia ou reclamar de uma medida injusta ou de uma situação desagradável. Entre nós, seriam convenientes manifestações deste género a fim de alertar para a necessidade de medidas que evitem a anunciada «explosão social espontânea», descontrolada e com o perigo de muitos prejuízo para inocentes, sem serem lesados os reais inimigos públicos.
Não consta que Portugal tenha sido atravessado por indivíduos a reclamar do aumento do IVA, dos transportes, do PÃO, da corrupção, dos bancos, etc. Esperam que outros lhes resolvam os problemas e que lhes levem os resultados numa bandeja. Limitamo-nos a desabafar no café ou no banco do jardim entre amigos. Onde está a coragem e o dever de cidadania? A regra parece ser ainda o medo, a resignação, a sujeição.
Falta aos portugueses a sabedoria de reclamar, de saber reclamar com visibilidade e oportunidade sem cair na alçada da polícia, embora o professor João César das Neves diga que «o mais irónico é que os nossos intelectuais costumam desprezar o povo e a cultura nacional, quando o único grande defeito do País está na mediocridade das elites».
O exemplo destes dois iranianos faz pensar.
Imagem do JN
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