sábado, 23 de maio de 2020

PRECAUÇÃO NO DESCONFINAMENTO

Precauções no desconfinamento

(Public em O DIABO nº 2264 de 22-05-2020, pág. 16).Por A João Soares)



A pandemia gerada pelo Covid-19 apanhou desprevenidas as pessoas em geral e os governantes em especial, de tal forma que, para tentar evitar os contágios generalizados, impuseram regras drásticas que trouxeram grande paragem de sectores da economia. Mas há pessoas atentas que analisaram os elementos de que tiveram conhecimento e sugeriram o abrandamento das imposições mais lesivas dos direitos humanos, quer dos seus movimentos quer das suas actividades, e esboçou-se o fim do desconfinamento.



Por cá, as medidas de abrandamento foram generalizadas por todo o país, mas noutros países como a Espanha houve graduações entre as grandes cidades e regiões, onde as infecções foram mais numerosas e graves, e mais suaves para o interior, onde os casos ocorridos foram raros e episódicos. Durante as restrições mais rigorosas, houve casos que fizeram meditar. Por exemplo, o dono de um cão podia sair de casa para passear o animal de estimação, o que lhe tornava possível sair de casa quase durante todo o dia, acompanhado pelo cão, porque não era controlado quanto à quantidade de saídas e à duração de cada uma. Mas não lhe era permitido sair só, e se o fizesse e fosse interceptado por um polícia, seria multado. Ora com cão ou sem ele, devia ser permitido dar um pequeno passeio sem se afastar muito de casa sem se aproximar das pessoas que encontrasse e indo agasalhado; em piores circunstâncias devia ser obrigado a usar máscara, para evitar ser atingido pelos efeitos de uma tosse ou um espirro de pessoa infectada (que essa devia estar sempre em casa).



Devia haver uma mentalização geral de que a melhor defesa contra os efeitos do vírus deve ser levada a cabo por cada pessoa, devendo ter um comportamento adequado de higiene pessoal, manter o distanciamento social aconselhado, medir a temperatura e estar prevenido com analgésico para o caso de sentir pequeno mal-estar. E agir sem pânico mas sempre com calma e serenidade. Procurar conhecer as opiniões de pessoas credenciadas, sem a elas aderir obstinadamente, mas para compreender melhor a complexidade da situação que afinal não justificava pânico, mas sim prevenção, cuidado. E perante as medidas de abrandamento da quarentena, convém não embandeirar em arco, porque a falta de cuidados pode ser grave e trazer a agudização da situação geral. Na Alemanha, o Instituto Nacional de Virologia Robert Koch, responsável por monitorizar a evolução da pandemia, relatou pouco depois do desconfinamento um aumento na taxa de infeção (RO) - o número médio que uma pessoa infectada pode contaminar - que passou para níveis potencialmente perigosos, subindo de 0,7 para entre 1 e 1,1 em poucos dias. Isso, como tem sido dito por muitas autoridades internacionais, tem de ser assumido como uma situação cuja resolução depende todos nós mas, dadas as suas consequências sociais e económicas, convém ser encarada com muita sensatez e determinação pelas autoridades públicas com espírito de harmonia e de cooperação, e com sensibilidade e respeito pelos direitos das pessoas.



Na gestão do confinamento e da sua evolução não deve haver uma regra rígida aplicável a todos e em qualquer lugar da mesma forma, porque há, de norte a sul, grande variedade de situações de risco, devendo cada uma delas ser encarada de acordo com as vantagens e inconvenientes para as pessoas, a sociedade e a economia. Mas sem deixar de respeitar as precauções individuais convenientes para impedir o alastramento da infecção. É indispensável que cada cidadão esteja consciente do seu dever de colaborar para a extinção da pandemia, agindo da melhor forma para não se deixar contaminar nem ir infectar terceiros. Devemos ter consideração pelos outros, mantendo a distância, usando máscara a tapar a boca e o nariz, em lojas e locais onde tal é aconselhado. ■


quarta-feira, 20 de maio de 2020

PORQUE A CHINA PROGRIDE MAIS DO QUE OS EUA

Mensagem do ex-presidente dos EUA, Jimmy Carter ao actual Presidente





Em mensagem a Donald Trump, o ex-presidente dos EUA, Jimmy Carter, explicou ao chefe da Casa Branca as razões do declínio americano e da ascensão da China. Leia abaixo:

“…Você tem medo que a China nos supere, e eu concordo consigo. Mas você sabe por que a China nos superará? Eu normalizei relações diplomáticas com Pequim em 1979, desde essa data… você sabe quantas vezes a China entrou em guerra com alguém? Nem uma vez, enquanto nós estamos constantemente em guerra.

Os Estados Unidos são a nação mais guerreira da história do mundo, pois querem impor aos Estados que respondam ao nosso governo e aos valores americanos em todo o Ocidente, e controlar as empresas que dispõem de recursos energéticos em outros países.

A China, por seu lado, está investindo seus recursos em projectos de infraestrutura, ferrovias de alta velocidade intercontinentais e transoceânicos, tecnologia 6G, inteligência robótica, universidades, hospitais, portos e edifícios em vez de usá-los em despesas militares. Quantos quilómetros de ferrovias de alta velocidade temos em nosso país? Nós desperdiçamos U$ 300 biliões em despesas militares para submeter países que procuravam sair da nossa hegemonia. A China não desperdiçou nem um centavo em guerra, e é por isso que nos ultrapassa em quase todas as áreas.

E se tivéssemos tomado U$ 300 biliões para instalar infraestruturas, robôs e saúde pública nos EUA teríamos trens bala transoceânicos de alta velocidade. Teríamos pontes que não colapsem, sistema de saúde grátis para os americanos não infectarem mais milhares de americanos do que qualquer país do mundo pelo COVID-19.

Teríamos caminhos que se mantenham adequadamente. Nosso sistema educativo seria tão bom quanto o da Coreia do Sul ou Xangai”.

(Jimmy Carter, na Newsweek Magazine)



sexta-feira, 15 de maio de 2020

DEVEMOS RESPEITAR OS VELHOS

Devemos respeitar os velhos
(Public em O DIABO nº 2263 de 15-05-2020, pág 16)

Uso o termo “velho” porque não gosto de ser arrastado pelos caprichos que alteram a estrutura da nossa Língua e “idoso” não enriquece o substantivo e fazem-no rimar com mentiroso, horroroso e outras palavras abomináveis. Prefiro “velho” porque significa detentor de muito saber e experiência da vida, o que levou os sobas africanos a terem um Conselho de Velhos a que recorriam sempre que tinham de tomar uma decisão importante para a tribo.

Agora, por azar das nações, os governantes e seus assessores consideram os velhos como uma “peste grisalha” e preferem tomar decisões por palpite ou capricho, o que muitas vezes origina erros demasiado insensatos que os obriga a alterações e emendas, tornando as burocracias confusas e sem garantia de se aguentarem por muito tempo. Por isso as leis são duvidosas e deixaram de ser “sagradas”.

A condenação dos velhos ao confinamento forçado e sem qualquer hipótese de arejar leva um constitucionalista a afirmar que “os idosos não devem ser submetidos a medidas extremas de isolamento social. Ainda não é proibido ser velho”. O isolamento social, sem sequer poderem contactar os descendentes, é um exagero com excepções ilógicas. Um cidadão sem cão, tem que vegetar encerrado nas quatro paredes de casa, mas se tiver um cão pode passar o dia praticamente todo na rua, porque não é possível controlar quantas vezes passeia o cão e quanto tempo demora cada passeio. Sem cão, o velho pode ser condenado a morrer da cura da pandemia. A tal rigor têm sido reconhecidos inconvenientes de âmbito mental psicológico, de saúde pública, de economia, de justiça. Quantos doentes morreram por terem sido parados os tratamentos, as consultas e as cirurgias? E muitos dos que não morreram podem ter piorado e abreviado o fim da vida.

Não é por acaso que muitos países evoluídos reconheceram o erro de terem imitado outros com restrições exageradas e decidiram rever os seus sistemas de confinamento, permitindo aos seus cidadãos mais actividade em liberdade, mas com regras de higiene, protecção, tratamentos e distanciamento social adequados. Nisso há um ponto marcante que é a séria e consequente formação ética, por forma a evitar infectar outros ou ser por eles infectado, porque ninguém tem garantia de não estar a incubar a doença ou de os outros estarem nessas condições.

E há quem diga que não se percebe quem é inimigo do povo, se o covid-19 ou se as autoridades demasiado autoritárias e pouco sensatas e esclarecidas. Há quem diga que está a ser aproveitada a oportunidade para, depois do falhanço, se criar a eutanásia, se estar a obter resultado semelhante criando solução geradora de incapacidade mental… para reduzir o número de velhos e a quantidade de pensionistas, para superar a crise social, ultrapassar a crise sanitária e aliviar a crise económica do Estado; mas, com isso, o País sairá muito diminuído como comunidade, a nível internacional. Devemos respeitar os velhos porque constituem um valor social e porque cada cidadão deseja vir a ser velho. Ninguém quer envelhecer para morrer, mas para continuar a viver, aproveitando aquilo que a vida lhe ensinou.

A vida constitui o milagre mais espantoso, mais indescritível e pródigo que nos calhou em sorte e é pena que, a pretexto da pandemia, tenham surgido tantas restrições às liberdades que a Constituição nos confere. A vida, se bem aproveitada, constitui um laboratório, uma escola, em que se aprofunda o significado da esperança e do amor, não apenas o amor aos familiares mas a qualquer próximo. E se a esperança e o amor forem bem interpretados na humanidade, esta passará a ser mais pacífica e harmoniosa, sem guerras nem ódios. Nisso, seria bom que aprendêssemos o que tem circulado em vídeos da vida animal.

A crise que mina a sociedade mostra que os velhos estão a ser tratados como uma desprezada periferia, e isso foi agora mais salientado. Estamos num estado de degradação da sociedade em que as pessoas já não morrem fatigadas da vida, mas simplesmente cansadas com o estado da humanidade. ■


quinta-feira, 7 de maio de 2020

PREPARAR O FIM DO «CONFINAMENTO»

Preparar o fim do “confinamento”
(Public em O DABO nº 2262 de 08-05-2020, pág 16, por A J Soares)

Chegam notícias de muitos países onde foi posta em prática a clausura das pessoas em casa, como medida de prevenção do Covid-19 e que cedo se aperceberam que tal cuidado foi exagerado e devia ter sido condicionado a alguns casos bem definidos; mas, agora, estão a normalizar cautelosamente tal condicionamento, para evitar as consequências em estabilidade mental das pessoas e na estagnação da economia e de outros aspectos sociais e religiosos. Psicólogos e psiquiatras apontam probabilidades de ocorrerem efeitos mais ou menos graves de frustração, ansiedade e medo, preocupação, angústia, incerteza, solidão, aborrecimento, tristeza, falta de esperança, etc. que acarretam riscos consideráveis para a saúde mental.

Entre nós, houve excepções à lei que obrigava à contenção em casa, como pessoas que tiveram de se deslocar para satisfazer serviços imprescindíveis, para passearem os cães domésticos e para efectuar a reunião na AR no dia 25 de Abril. Isto é, pessoas privilegiadas por quem a lei (que, como tal, devia ser geral) foi ignorada ou desrespeitada. Mas, tal como a conveniência assumida de os cães irem à rua, também seria positivo que as pessoas pudessem ou devessem, diariamente, dar pequenos passeios ao ar livre, cumprindo as regras de higiene e do distanciamento social, para exercício das pernas e para respirar ar puro, diferente daquele que, em recintos fechados, é respirado depois de ter sido expirado por outras pessoas.

O nosso Governo prometeu abrandar o rigor da “mumificação social colectiva”, movido mais pela consequência da paragem da economia do que por respeito às liberdades das pessoas. Os velhos (há quem prefira o termo idosos, cuja terminação é igual à de mentirosos, ranhosos, manhosos, etc), salvo raras excepções, são pessoas com muito saber acumulado quer pelo estudo quer pela experiência da vida, e que, em muitos casos, se encontram em perfeitas condições de autonomia, e de uso dos seus direitos (inclusive o direito a correr alguns riscos), não podem ser sonegados, embora pela sua saúde já debilitada fossem a maioria das vítimas do Covid-19. Por isso, não deviam ser colocados num mesmo conjunto e servir de pretexto para a contenção em restritos espaços fechados. Não foram beneficiados, mas sim, na maioria, desprezados sem poderem ver os familiares mais jovens.

Agora, há muitos países com tradições de avanço em civilidade e sensatez e com equipas governantes atentas às palavras de professores e pensadores, independentes de ideologias populistas, que reconheceram ser desumano o exagerado estado de emergência e preparam a abertura da economia de forma gradual e a libertação das pessoas para poderem usufruir as suas liberdades de viver em boas condições, mas usando de cuidados adequados de higiene pessoal e de distanciamento social que tornem mais segura a sua situação perante o malfadado vírus.

Perante esta situação, o progressivo abrandamento das condições desumanas da contenção deve ser orientado por objectivos estratégicos de grande prazo, para não se correrem riscos evitáveis e para se iniciar uma sociedade mais responsável defendendo a saúde de todos e preparando o país para uma recuperação da economia em moldes mais aceitáveis, de continuidade e rentabilidade. Há dias vi uns sinais de desenvolvimento da agricultura, actividade que, pela forma como ocorre ao ar livre, proporciona condições muito salutares e com boas imunidades. E a sua produtividade é essencial para a sobrevivência em casos de dificuldades de transporte para importação de produtos estrangeiros.

Também o turismo, que está muito afectado e com aspectos de difícil recuperação, pela perda de confiança no exterior, deve ser pensado de forma mais cultural, tornando-se mais enriquecedor do saber e da informação sobre o Mundo mais desejável que se pretende. Não basta mostrar monumentos a serem fotografados, mas ensinar as condições e as motivações da sua criação, enriquecendo, assim, a imagem que os turistas levam do nosso país.

E termino com palavras de apreço aos nossos profissionais da saúde que não olharam a esforço e risco para salvarem a saúde das pessoas. E também aos jovens artífices que iniciaram o fabrico de produtos variados, úteis aos que vivem mais em risco.


terça-feira, 5 de maio de 2020

A RECUPERAÇÃO ECONÓMICA

A recuperação económica
(Public em O DIABO nº 2261 de 01-05-2020, pág 04, por Henrique Neto)


A crise económica e financeira que se seguirá à pandemia do Covid-19 será trágica para a grande maioria dos portugueses. Prometer que não haverá austeridade é uma irresponsabilidade que se inscreve numa longa lista de promessas com que o poder político tem enganado os portugueses. Recordo Cavaco Silva a garantir que o dinheiro no BES estava garantido, de Pedro Passos Coelho a prometer que a separação do banco mau do banco bom resolveria os problemas do mesmo BES e as promessas de António Costa a afirmar que a venda do Novo Banco a um fundo norte americano não precisaria do dinheiro dos portugueses. Para já não falar das mentiras de José Sócrates e do seu Ministro das Finanças aquando da nacionalização do BPN.

Claro que António Costa reza aos deuses dos agnósticos para que a União Europeia lhe resolva o problema para os próximos anos, já que depois o problema ficará para o PSD resolver. Porque se não fosse essa a ideia, o Governo não dependeria tanto do dinheiro a chegar da União Europeia e já estaria a trabalhar e a colocar no terreno um plano de sobrevivência nacional. Desde logo, incentivando as empresas a iniciarem as suas actividades (nunca compreenderei porque parou a AutoEuropa) produzindo para o mercado, ou para stock, mas produzindo. Ou teria parado a construção da Linha circular do Metro, o aeroporto do Montijo e a ferrovia em via única de bitola ibérica de ligação a Badajoz. Substituindo esses investimentos por outros que garantam aos investidores empresariais, nacionais e estrangeiros, uma logística moderna de exportação. Fazendo rapidamente os projectos que deveriam existir, mas que há feitos apenas para o Sul - ELOS - apressando os que faltam para apresentar ao financiamento da União Europeia. Para já, podem apresentar, se é que não foi já feito, o ELOS e iniciar as obras.

Os grandes investimentos devem ser essencialmente dois: o novo cais Vasco da Gama em Sines e o ferroviário constituído pelo corredor do Atlântico proposto pela União Europeia, com a entrada em Portugal a Norte e a saída a Sul, em via dupla e bitola UIC (europeia). São investimentos volumosos, mas aqueles cujo financiamento foi previsto por Bruxelas. Em complemento e num segundo plano, investir nos Metros do Porto e de Lisboa, neste segundo caso na Linha Vermelha até Alcântara.

Portugal vai precisar de investimento público como de pão para a boca nos próximos tempos, promovendo o crescimento da economia e o emprego e dando à União Europeia um bom exemplo de investimentos com rentabilidade assegurada e promotores das exportações nacionais, por terra para a Europa e por mar para todo o mundo. Ou seja, transformar a imagem europeia de um Portugal de mão estendida, pela realidade de um País a lutar pela sua sobrevivência, com ideias e projectos que façam sentido.

Mas não basta o investimento do Estado, vamos precisar do investimento privado, nacional e, principalmente, internacional, preferentemente na indústria transformadora. Acontece que a oportunidade é única para um país que, como Portugal, possa apresentar a melhor logística do Ocidente para combater a logística do Oriente, no momento exacto em que os países e as empresas do Ocidente vão ter de pensar na sua actual dependência da China e encontrar os melhores locais para investir com esse objectivo.

Esta é, em resumo, a única estratégia que conheço para dar um futuro à economia portuguesa. Uma estratégia que pretende acabar com a ideia do mercado interno e demonstrar que o crescimento das exportações portuguesas, até ao nível dos outros países da nossa dimensão, é a única via para o progresso nacional. Demonstrar que o turismo vai levar algum tempo a retomar com a dimensão que já teve e que, em qualquer caso, serve no curto prazo, mas não reside no turismo a transformação necessária da economia portuguesa. Nesse sentido não precisamos de mais, mas de melhor turismo, e devemos desde já mudar a agulha neste domínio: formação, formação e formação. Entretanto, projecte-se, com tempo, um aeroporto em Alcochete e um túnel sob o rio, em direcção a Lisboa. Aeroporto de que só precisaremos daqui a bastantes anos.

Há outros investimentos possíveis. Permita-se à actividade privada a construção de uma ou duas torres no espaço da antiga Lisnave e a renovação da beira-rio em Almada, com baixa volumetria de reconstrução. Planeie-se no Seixal um pequeno paraíso para a náutica de recreio, aproveitando os espaços de manutenção que lá existem. Faça-se do Tejo e de Lisboa um centro de turismo de qualidade para Congressos e Conferências internacionais, para paquetes de luxo, e concentrem em Sines a actividade comercial, com caminho de ferro em direcção a Norte. Aliás, Sines será o local de eleição para a instalação de empresas internacionais integradoras, isto é, empresas que, como a AutoEuropa, recebem componentes e sistemas de todo o mundo e exportam os seus produtos finais para todo o mundo. Sobre isto, recordo o que aconteceu com a vinda para Portugal da AutoEuropa: no início as exportações de componentes não passavam de uns poucos milhões de euros, mas em 2019 ultrapassaram os oito mil milhões.

Sempre fui contra a venda da EDP, da PT, da REN e da ANA, por estarem ligadas ao espaço nacional e terem importância estratégica. Já não vejo nenhuma vantagem na posse pelo Estado dos transportes urbanos das cidades ou do caminho de ferro para o transporte de passageiros e de carga, desde que esteja garantida a posse das linhas e exista concorrência. A linha de Cascais seria a primeira. Concordo que a TAP tem importância estratégica, mas não é nada que, na actual conjuntura, não se possa conseguir com um bom acordo de venda que garanta o hub de Lisboa e a permanência dos voos agora existentes para o Brasil, América do Norte e países das antigas colónias portuguesas. Razões que representam uma vantagem vender a uma das empresas dos Estados Unidos e não a uma empresa chinesa ou europeia. Neste domínio, ainda não percebi para que serve uma empresa aérea açoriana.

Peço desculpa de centrar a minha ideia de investimentos em Lisboa, o que acontece por duas razões: porque conheço melhor a região e porque tenho grande confiança nos empresários e nos autarcas do Norte e do Centro, para resolverem os seus próprios problemas e desenvolverem as suas próprias ideias, desde que o Estado não lhes complique a vida. Veja-se o que disse sobre a AutoEuropa.

O que o Norte e o Centro precisam é de uma via férrea para as suas exportações para a Europa, já que por via marítima estão bem servidos e temos Sines. Precisam também de valorizar algumas das suas produções, a exemplo do que aconteceu com o calçado, além de reduzir a sua dependência da parte pobre da economia dual, que não tem futuro. Para isso é preciso criar mais empregos na parte mais rica da economia.

Penso que deixo aqui um resumo para uma estratégia de sobrevivência da economia portuguesa, uma estratégia que organize e garanta o seu futuro crescimento e rentabilidade. Se me perguntarem se tenho alguma esperança que seja adoptada, ou até só debatida pelo Governo, direi que não. Limito-me a escrever para a história.

Nota: aqui fechado, também ainda não percebi qual a razão por que empresas portuguesas não estão ainda a inundar os mercados internacionais de testes, batas, calças, calçado, viseiras, cotonetes, óculos e máscaras da mais elevada qualidade. Qual é o problema? ■

domingo, 3 de maio de 2020

JÁ NÃO SE PEDEM MILAGRES

Já não se pedem milagres
(Public em O DIABO nº 2261 de 01-05-2020, pág 16)

Depois de ler o artigo “Ainda haverá fé sobre a terra?”, n’O DIABO nº 2259, de 17-04-2020, procurei um apontamento esboçado há algum tempo e apresento-o aos leitores depois de lhe acrescentar algumas considerações complementares. Não devemos estar à espera de milagres.

A Humanidade é composta de todos os seres humanos. E é imperioso que haja ética, moral, respeito pelo próximo e pela natureza, e que seja generalizada a instrução para que cada um saiba desempenhar o seu papel de forma a agir em conformidade com esta ideologia. As religiões foram criadas por pessoas eticamente bem formadas, autênticos filósofos ou sábios, quando ainda não havia ciência e saber que ajudasse a compreender a Natureza em que se vivia. O politeísmo foi uma solução para dar resposta aos curiosos sobre os fenómenos que observavam: Sol, Lua, Vento, etc. e foram criados inúmeros Deuses, um para cada fenómeno que ainda não tinha explicação por ainda não haver ciência devidamente desenvolvida e acessível às pessoas vulgares.

O tempo foi passando e a sociedade modificou-se. Surgiram diversos polos de atracção quer de aspectos políticos, quer desportivos, quer económicos, quer tecnológicos que desviam as pessoas da fé religiosa, sem que esta fosse substituída. Por exemplo, a política tem levado as pessoas a concluir que nada é seguro e não podemos acreditar em nada nem em ninguém, mesmo na escrita que, até alguns anos atrás, era segura e garantida, hoje nada vale nem significa porque aquilo que se apresenta como afirmação indiscutível da obra que veremos amanhã, é negada poucas horas depois.

Uma das invenções mais dramáticas foi o dinheiro, que foi criado como necessário para facilitar as compras, substituindo as trocas, mas tornou-se na pior droga que existe e que é mais perigosa que qualquer outra, porque não tem o perigo de overdose, o que origina ambição, ganância, roubo, corrupção, sem respeito por nada nem por ninguém, tudo sem limites.

A religião, embora muito tenha resistido, não podia escapar à onda de cepticismo e, muitas vezes, não passa de ilusão, panaceia. Há dias, numa conversa em que havia um beato fanático, perguntei-lhe quais são as quatro lições que devem ser extraídas da segunda parte da oração “Pai Nosso”. Tal como milhares de “crentes”, que papagueiam as orações sem compreenderem o significado das palavras que dizem, ele sabia dizer a oração mas não via ali senão pedidos ao Pai. Ora o Pai, amantíssimo e justo, não faz favores a quem se comporta mal, a quem faz asneiras, não premeia quem peca, embora perdoe. A oração, nas palavras “o pão nosso de cada dia nos dai hoje”, pede a Deus ajuda espiritual, saber, moral, para não sermos ambiciosos, gananciosos e contentarmo-nos com o necessário para viver; nas palavras “perdoai-nos as nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”ensinam que devemos perdoar as ofensas dos outros para sermos perdoados das nossas desobediências às lições que recebemos de Deus, perdoando os erros dos outros para podermos ser perdoados dos nossos; as palavras “não nos deixeis cair em tentação” significam que devemos ter bom comportamento e usar de moral para não cometermos erros de ambição, de inveja, de ódio, de violência, de droga, etc. de que resulte mal para nós ou para outros. Enfim, devemos ser cuidadosos, bem comportados, prevenidos, para nos “livrarmos do mal”, das doenças, dos acidentes, etc. É pena que muita gente papagueie as palavras das orações sem tirar delas as lições pretendidas pelo Mestr

E estas considerações também mostram que a acção de formação e educação por parte de sacerdotes é deficiente quanto ao desenvolvimento da fé, bem fundamentada e praticada pelos crentes. As festividades tradicionais não são suficientes para o reforço da fé, como bem explica o autor (Águia da Beira) no artigo atrás referido. A fé, a esperança e o optimismo, próprio da consciência limpa, geram felicidade. ■


PARA QUÊ A ONU?

Para quê a ONU?
(Public em O DIABO nº 2260 de 24-04-2020, pág 16, por António João Soares)

A ONU pouco ou nada tem feito, praticamente, em favor da paz mundial, da segurança ou da qualidade de vida da humanidade. À custa dos Estados-membros, tem dado emprego a muita gente que gosta de “tacho” e de imagem, mas os cinco ditadores permanentes do Conselho de Segurança da ONU não chegam a acordo em assuntos de interesse global, usando do poder de veto que lhes é atribuído.

O caso da desnuclearização tem sido muito notado. Sendo indubitavelmente um assunto de interesse geral, nunca foi encarada frontalmente a sua aplicação de forma exemplar, pelo facto de qualquer desses cinco “donos do mundo” possuir armas de alta destruição e não mostrar interesse em se desfazer delas e, por outro lado, não a ONU, mas a América, tem procurado impor tal regra ao Irão e à Coreia do Norte, com sanções económicas. E fica-se a duvidar do papel real deste órgão, pretensamente poderoso, mas sujeito à vontade colectiva (raramente concretizada, devido aos interesses de cada um) dos cinco membros com direito a veto.

Perante as guerras que têm causado milhares de perdas de vidas no Médio Oriente, em alguns países como o Iraque, a Síria, o Afeganistão, etc. não se viu qualquer resultado da influência da ONU para restabelecer a paz e a segurança, para bem das pessoas.

Agora, perante a pandemia do Covid-19 que tem matado tanta gente, os membros do Conselho de Segurança nada têm feito porque, segundo eles, a perda das vidas de tantos milhares de pessoas não afecta a paz e a segurança. Porém a opinião de muitos pensadores mostra receio de que este fenómeno possa ser aproveitado para desencadear uma guerra entre os EUA e a China. E quem é o responsável pelas atitudes, ou falta delas, da ONU? António Guterres, que está limitado a “chefe de secretaria” e cercado de muitos burocratas que carecem de preparação e de regulamentação para agir em proporção da sua remuneração?

E quanto à China, ela pode não sair tão vencedora como parece, porque o fenómeno que originou a sua evolução muito eficaz em meados do século XVI pode agora acontecer a favor do Ocidente, que seja levado a meditar no fenómeno do Covid-19 e despertar da sua modorra de cinco séculos e definir novos rumos para a vida sócio-política e económica. Esta referência ao século XVI já aqui foi referida em artigo publicado em 1 de Novembro de 2019, citando o comentador político Kishore Mahbubaini. E nesse artigo era transcrita a frase de Napoleão Bonaparte “Deixem dormir a China, porque quando ela acordar, vai abalar o mundo”. Mas ela acordou e está já em competição com o Ocidente. Entretanto, o Ocidente adormeceu à sombra do sucesso antigo e, em vez de assumir e desenvolver a sua superioridade dos velhos tempos, procurou impor a superioridade militar, como acontece com os EUA que, ao menor pretexto, enviam tropas para pequenos países do terceiro mundo. Nisso, o Conselho de Segurança talvez devesse fomentar a estratégia dos 3M recordada no referido artigo – minimalista, multilateral e maquiavélica (com o significado de promover a virtude e evitar o mal).

Agora, com a crise gerada pela actual pandemia, o CS/ONU tem uma oportunidade de promover comportamentos de ética, sensatez e valorizando a virtude e evitando o mal, a fim de evitar que a China consiga abalar o mundo, com o seu sistema pacífico e insinuante que usa meios suaves de desenvolver a sua economia e sobrepondo os seus interesses económicos à generalidade dos países. É notória a preponderância do fornecimento de medicamentos e a produção de outros equipamentos de saúde além de muitos outros materiais de comunicação, de transporte, etc.

Embora estejamos em época com indícios de redução da globalização, parece imperioso que surjam estruturas de preparação de um futuro mais racional, solidário, respeitador das pessoas e da natureza, sem corrupção e sem apego doentio ao dinheiro. Governar deve ser pensar em melhorar a qualidade de vida da sociedade. A ONU devia ser uma escola de felicidade equilibrada entre todos os graus das sociedades. ■