sábado, 15 de janeiro de 2011

A China em vez do FMI para combater a dívida???

A China em vez do FMI para combater a dívida???

A notícia «O preço que a China impôs a Portugal» veio ao encontro daquilo que tem sido expresso em resposta a comentários diversos. Por isso não surpreendem as frases

«um preço que irá muito além dos juros cobrados pelo dinheiro que já prestou»

«A China quer entrar ou ser parceira privilegiada em bancos e empresas estratégicas portuguesas que lhe permitam reduzir as barreiras às suas próprias exportações, inundar a Europa de produtos, beneficiar de apoios fiscais, aduaneiros e de fundos comunitários para a inovação e energias renováveis, e usar Portugal e as suas empresas como 'trampolim' para reforçar posições em África, designadamente na construção de grandes infra-estruturas e construção civil em Angola e Moçambique»
 

«pretende "identificar possibilidades de cooperação em áreas como a logística portuária, serviços financeiros, novas e altas tecnologias, protecção do meio ambiente, energias renováveis, turismo, entre outras"».

Há um forte receio da concorrência dos produtos chineses, perante uma indústria nacional, pouco dinâmica, sem criatividade, e com factores de produção antiquados e de elevado custo, além de os empresários não estarem dispostos a contentarem-se com lucros menores.

Mas, nos tempos actuais, não se podem fechar fronteiras contra a entrada de produtos estrangeiros. E se elas fossem fechadas isso iria contra os interesses dos que têm menor poder de compra e iria beneficiar os industriais locais que vendem mais caro do que a concorrência estrangeira. Isso causaria descontentamentos que potenciariam reacções de graves consequências.

O que resta fazer, perante essa concorrência desigual? À primeira vista, os industriais ocidentais terão de rever a sua organização empresarial, métodos de fabrico, margem de lucro, etc. Mas talvez por esse caminho não se encontre solução eficaz.

Resta que entre em acção a tradicional sabedoria chinesa, tão antiga como o Império do Meio. Eles verão que se o ocidente ficar pobre, sem poder de compra, não terão mercado para os seus produtos e, para evitar isso, terão de procurar um ponto de equilíbrio, em que são sábios. Mesmo assim, isso não dispensa a nossa economia de ser submetida a uma cura de reorganização para ser mais barata e eficaz. As gerações mais jovens terão de aprender a lidar com este problema que agora consideramos grave mas que terá de ser considerado normal no quotidiano de amanhã. Aliás, os próximos tempos não se compadecerão com imobilismos e soluções «para sempre», mas exigem um permanente ajustamento de rota, como acontece com a condução do automóvel em que o volante está permanentemente a sofrer pequenos desvios.

Quanto à competição entre os produtos ocidentais e os chineses, devemos ter consciência de que estamos num momento da história da humanidade em que se defende o comércio livre, a economia de mercado. A China dispõe de trunfos que a civilização ocidental não quer, não está disposta a utilizar, como seja a mão de obra barata.

Mas ninguém no Ocidente tem poder para levar os trabalhadores chineses a exigir salários muito mais altos do que os actuais e abdicar das suas características tradicionais. Também não é fácil reduzir os salários no Ocidente, ao ponto de ficarem ao nível dos chineses.

Mas é possível moralizar muitos empresários que se gabam de altos lucros, altos dividendos e uma vida faustosa à custa dos trabalhadores e dos clientes. Se tais empresários não se limitarem nos seus lucros e nas suas mordomias, acabarão por ter de fechar as suas empresas, e com isso os que mais sofrerão serão os desempregados.

Impõe-se que se antecipe uma estratégia para sobreviver. Os Chineses não são parvos e sabem que, se o mundo perder poder de compra, devido ao desemprego, deixarão de ter clientes para os seus produtos. Por isso, à falta de inteligência dos ocidentais, serão os chineses a moderarem a sua evolução económica para não acabarem por ficar com as mercadorias em armazém.

O mundo sempre passou por altos e baixos e sempre se chegou a pontos de equilíbrio, temporários.
Acho que cada pessoa, cada família ao comprar o que deseja, deve escolher em função do preço e da qualidade do produto sem olhar à origem. A maior parte dos industriais portugueses não merecem o sacrifício de lhes pagar mais caro. Não se pode esquecer  que a actual crise se deve a eles e à pressão que têm feito sobre o Governo, como consta no post «Justiça Social ???»

Mas o título deste texto conduz a imaginar que o FMI não incomodará os portugueses (ele viria incomodar os políticos que vivem e enriquecem à custa de habilidades que lesam as finanças do Estado) porque o seu papel será melhor desempenhado pela China. Enquanto os técnicos do FMI iriam usar teorias lidas em bons manuais universitários, mas desajustadas das realidades que eles não conseguem compreender, a China, pelo contrário pretende salvaguardar o dinheiro investido nos títulos da dívida portuguesa e retirar benefícios de Portugal como entreposto para o seu comércio com a Europa e, para isso, usa a tradição de sensatez, realismo e pragmatismo, de que tem dado evidentes provas.

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