quarta-feira, 28 de junho de 2017

REGIMES POLÍTICOS NECESSITAM DE REFORMAS

Regimes políticos necessitam de reformas
(Publicado em O DIABO em 27 de Junho de 2017)

Os sistemas eleitorais têm dado resultados pouco credíveis, pouco realistas e imprevisíveis e sem agradarem plenamente, o que nada abona a favor dos ideais democráticos.

Houve o caso português com o artifício de criar a geringonça. Nos EUA diz-se que o vencedor das eleições presidenciais não correspondeu ao detentor do maior número de votos. Em Espanha houve confusão nas legislativas de que resultou a demora de constituição de novo Governo e este só surgiu depois de novas eleições. Em França, na eleição presidencial acabou por se escolhido um candidato independente e de os partidos mais tradicionais e credenciados terem ficado derrotados. Agora, na Grã-Bretanha a vencedora não tem maioria absoluta no Parlamento e surgem muitas dúvidas quanto à capacidade de o brexit ser negociado com a UE de forma favorável aos interesses da Grã-Bretanha e já há quem receie que as cláusulas do acordo a elaborar sejam ditadas pela UE, sem respeitar interesses essenciais do Reino Unido, por estes não serem devidamente defendidos.

A doutrina democrática está em falência, com os partidos a perder prestígio e o sistema eleitoral a necessitar de profunda reforma. No horizonte, pairam sinais de que o mundo poderá estar a orientar-se para a ditadura, com o povo desorientado, pelo poder disperso democraticamente, e estar à procura de rumo para uma concentração na mão de um pastor todo poderoso, a quem o povo obedece, como ovelhas dóceis ou como crianças de colégio infantil que se deslocam em filas de dois, de mãos dadas, sob a vigilância de educadoras. Mas, atenção, um tal regime exige regras e pessoas interventivas que apresentem sugestões e propostas que impeçam excessos autoritários que originem pior instabilidade do que a da democracia.

Será bom que surja um filósofo, doutrinador, que apresente boas hipóteses de solução e que escolha a melhor e a esquematize por forma a definir o objectivo principal de organização e regras de funcionamento.

Mas, entretanto, há que aproveitar todas as oportunidades para criar força anímica no sentido de as energias serem bem encaminhadas para objectivos essenciais, para olhar em frente. Porém, deve haver a sensatez de evitar que, ao dar um passo, não se entre em aventuras caprichosas sem estar bem consciente de que não haja desvios do trajecto que conduz ao resultado desejado. Porém, é preferível mudar do que ficar impassível no pântano até à putrefacção total. No nosso caso lusitano, há que dar valor à coragem, embora com resultados criticáveis, daqueles que fizeram o 5 de Outubro, o 26 de Maio e o 25 de Abril. E há, também, que analisar os erros cometidos durante aquilo a que os militares chamam «exploração do sucesso», há que agir após um planeamento para a acção e para o que dela resultará, a fim de se poder ir «mais longe e mais além». E, relembrando os Lusíadas, não é preciso ir «além do que permite a força humana», mas sim, fazer um bom aproveitamento de todos os recursos, humanos, materiais e tecnológicos a fim de recuperarmos a «Nação valente e imortal» pela qual todos ansiamos. Cabe a cada um de nós desenvolver o máximo esforço para assegurar o futuro dos netos e ninguém deve ficar sentado à espera que sejam outros a trazer-lhe, numa bandeja, um futuro melhor. Temos que procurar ir «para além da Taprobana». E nada de bom se consegue com violência. Querer combater a violência com mais violência é como querer matar a fome com mais recusa de alimentos. Pensemos nisto e façamos tudo o que pudermos, tudo quanto «permita a força humana».

Em qualquer gesto de reforma ou mudanças no regime, é conveniente não se limitar a pequenos retoques, isto é, há que se inserir numa visão de conjunto com vista a objectivos abrangentes para serem sustentáveis. Por exemplo, é opinião corrente que os partidos têm sido o cancro fatal da democracia, como ultimamente se viu em França e na Espanha, onde essas ferramentas tradicionais foram postas de lado por novos grupos. Oxalá estes saibam gerir melhor os interesses colectivos dos seus concidadãos. Em Portugal, o fenómeno ficou-se pela geringonça que, por ser constituída por partidos viciados no sistema, nada mudou no aperfeiçoamento da Justiça, na eliminação da corrupção, na recusa de obedecer aos poderosos da finança, na simplificação da administração despedindo «boys» que nada fazem (ou tudo complicam) e vivem a pensar no dia em que recebem o salário, na injustiça social, etc.

Haja vontade e amor pátrio e coragem para levar a carta a Garcia. Os cidadãos desejam e merecem que se faça tudo pela melhoria da sua qualidade de vida, em clima de Justiça Social.

António João Soares
Em 20 de Junho de 2017

terça-feira, 20 de junho de 2017

A VIOLÊNCIA GERA MAIS VIOLÊNCIA, ÓDIOS E VINGANÇAS

A violência gera mais violência, ódios e vingançasbr /> (Publicado em O DIABO em 20 de Junho de 2017)

Embora consciente de que não é fácil amenizar o lado selvagem da mente dos governantes das grandes potências, tenho repetido o alerta de que a violência não dá bons frutos e, pelo contrário, dá origem a mais violência em escalada imparável, a ódios e a desejos de vingança. Vemos a concretização deste fenómeno a cada passo como se viu com o atentado em Cabul em que um carro armadilhado matou pelo menos 90 pessoas e feriu cerda de 400, perto do Palácio Presidencial, onde se encontram várias embaixadas e edifícios do Governo, causando danos nas embaixadas da França e da Alemanha.

A confirmar a ideia atrás exposta, recordemos que em 13 de Abril, os EUA lançaram no Afeganistão a maior bomba não nuclear do seu arsenal, a «mãe de todas as bombas», alegando com fanfarronice que, com isso, iam eliminar o Estado Islâmico. Mas este, sem grande demora, reagiu e, no dia 22, perpetrou um ataque contra base militar, causando a morte a mais de 100 soldados afegãos.

E não ficaram por aí, pois em 3 de Maio causaram oito mortos e 26 feridos em ataque a caravana da NATO em Cabul. E no último dia de Maio, novo atentado em Cabul fez os resultados atrás referidos.

Mas se os governantes são os decisores de acções violentas de retaliação que activam o terrorismo e as acções violentas contra os direitos humanos à vida e à harmonia social, eles não são os responsáveis conscientes dessas suas acções, porque quem impõe as guerras e obriga os governantes a fazê-las são os fabricantes de armas. O general Dwight Eisenhower, nos últimos tempos de vida, alertou para o perigo que os milionários do «complexo industrial militar» representam para a PAZ e pela pressão que fazem sobre governantes e chefes de grupos terroristas e dissidentes oposicionistas, para aumentarem o seu negócio, para consumirem o veneno que fabricam.

Por isso um líder de grande potência, antes de decidir, deve ouvir pessoas clarividentes de vários sectores e as suas opiniões devem ser tidas em atenção e respeito. O Trump não tem cura e age por palpite, empurrado pela sua vaidade e ambição, mas sem raciocinar sobre o efeito dos actos que desencadeia. Era previsível que a «bomba mãe de todas as bombas» não iria terminar o terrorismo islâmico nem acabar com o Daesh, mas apenas um acto de violência, com efeito na propaganda, mas que, na realidade, seria mais uma jogada que incitava resposta e esta não demorou e com demasiados resultados graves.

Será que o abandono do Acordo de Paris constitui mais um erro, já condenado por todo o Mundo? Há quem preveja que, sem mais cuidados na redução da poluição, haja alterações climáticas cada vez mais graves, provocando doenças e mortes e aumento da emigração devida à desertificação de extensas áreas sensíveis. Erros de hoje produzirão tragédia para os nossos descendentes.

Quanto à intromissão nos assuntos internos de outros estados, deve ser muito bem ponderada preparando resultados positivos, com respeito pelos verdadeiros direitos das pessoas. Hoje, há diversos analistas a referirem os péssimos resultados para os estados visados e as áreas em que se encontram das destituições e mortes de Saddan Hussein no Iraque e de Muammar Khadafi na Líbia. Num e noutro destes dois casos, os resultados são visíveis na situação de guerra e de caos em que passaram a sobreviver as populações. Casos como estes devem ser tidos como lições sobre a necessidade de bom senso, racionalidade, sensibilidade e humanidade.

Prefira-se a negociação em vez da violência. Desenvolva-se a diplomacia, e mantenham-se os militares preparados para resolver apenas casos extremamente graves e excepcionais. Os diplomatas devem ser preparados e mentalizados para incentivar a procura de soluções por meio de diálogo e negociação entre as partes desavindas e servir de intermediários para conduzir as partes a encontros bem aceites. Evitem a violência e defendam o reforço da harmonia e da paz. Querer eliminar a violência à custa de mais violência é como querer matar a fome com mais privação de alimentos.

13 de Junho de 2017
António João Soares

quarta-feira, 14 de junho de 2017

IDOSOS PRECISAM DE SOLIDARIEDADE



Idosos precisam de solidariedade
(Publicado no semanário O DIABO em 170613)

Era o Sábado 3 de Junho e os residentes do Centro de Apoio Social, à hora habitual, entraram para o refeitório para tomarem o almoço. As mesas tinham uma disposição ligeiramente diferente e os de duas mesas foram transferidos para outras com lugares disponíveis. Já todos estavam sentados quando chegaram os elementos do grupo coral de cantares alentejanos «Lírio Roxo». O Director disse palavras simpáticas de recepção aos visitantes e o almoço iniciou normalmente e, após a sopa, o Chefe do Grupo respondeu às boas vindas com os seus artistas a entoarem um canto, dos muitos que são património cultural da humanidade. E, depois, tudo decorreu sem mais condimentos nem molhos.

Saídos do refeitório foram se dirigindo para o Bar e para a Sala de Leitura onde a arrumação das cadeiras tinha sido feita por forma a haver espaço para os artistas e para a assistência. Quando chegou a hora de iniciar, o Director fez um breve e simpático discurso que agradou a todos e o Coro iniciou com a primeira moda, finda a qual e terminados os aplausos, o Chefe respondeu ao Director e disse palavras amáveis aos presentes, alguns em cadeiras de rodas e outros um pouco alheios por estarem dominados pelos efeitos da doença.

Ao fim de várias modas, foi feito um intervalo para os cantores, o qual foi preenchido por uma acordeonista que entreteve a assistência com música variada que se prestou a que homens e mulheres dançassem. Alguns, depois de se afastarem das bengalas e canadianas, procuraram mover-se um pouco, com muito prazer e algum esforço. Um destes, a meio da canção, desistiu porque o esforço já era demasiado. A idade exige distracção, convívio e divertimento, mas dentro de limites que, em alguns casos, são muito apertados.

Depois da actuação da acordeonista, houve lanche e, a seguir, novos «cantes» alentejanos até ao encerramento.

Foi uma tarde bem passada, em ambiente muito agradável, sem qualquer discriminação entre residentes, empregados, artistas e familiares que se inseriram com oportunidade. Estas horas bem passadas com prazer para todos correspondem à problemática referida no meu texto publicado no semanário O DIABO em 21 de Março de 2017 com o título «Os idosos não precisam apenas de comer e dormir». Também, há poucos dias, li notícia que diz que, na Holanda, há regular apoio de jovens estudantes a lares de idosos, ao ponto de estes lhes darem alojamento para lhes facilitar conversarem e distraírem os idosos internados.

Realmente, o meu artigo tinha título correcto e merece ser devidamente interpretado e aplicado, dentro das possibilidades existentes, não apenas nos lares mas também em família, na vizinhança e em grupos de amigos. Acerca disto, transcrevo palavras do Papa Francisco sobre o envelhecimento, em que segundo Ele, se aprende coisas essenciais como «A felicidade interna não vem das coisas materiais do mundo… quando se tem amigos e irmãos, com quem falar, rir e cantar, isso é felicidade verdadeira».

sábado, 10 de junho de 2017

10 DE JUNHO

10 de Junho.

Hoje festejamos o dia da Raça ou de Camões, mas não basta recordar os feitos dos heróis do passado, é preciso olhar para a frente. E não se deve entrar em aventuras caprichosas sem estar bem consciente do resultado desejado.
Mas é preferível mudar do que ficar impassível no pântano até à putrefacção total. Há que dar valor à coragem, embora com resultados criticáveis, dos que fizeram o 5 de Outubro, o 26 de Maio e o 25 de Abril. E há que analisar os erros cometidos durante aquilo que os militares chamam «exploração do sucesso», há que agir após um planeamento para a acção e para o que se seguirá, a fim de se poder ir «mais longe e mais além».
E não é preciso ir «além do que permite a força humana», mas sim, fazer um bom aproveitamento de todos os recursos, humanos, materiais e tecnológicos a fim de recuperarmos a «Nação valente e imortal» pela qual todos ansiamos.
Cabe a cada um de nós o máximo esforço para assegurar o futuro dos netos e ninguém deve ficar sentado à espera que sejam outros a trazer-lhe numa bandeja um futuro melhor.
Temos que procurar ir «para além da Taprobana». Mas nada de bom se consegue com violência. Querer combater a violência com mais violência é como querer matar a fome com mais recusa de alimentos.
Pensemos nisto e façamos tudo o que pudermos, tudo quanto «permita a força humana».

quarta-feira, 7 de junho de 2017

ECOLOGIA, AMBIENTE E RELIGIÃO


Ecologia, ambiente e religião
(Publicado em O DIABO em 6 de Junho de 2017)


De manhã fui num grupo à cidade próxima, onde uns aproveitaram para fazer compras e utilizei para tratar da actualização da morada no cartão de cidadão. Depois tirei algumas fotografias e visitei duas igrejas situadas nas proximidades do local de reencontro para o regresso.

De tarde, participei numa «excursão» para ver a procissão da quinta-feira da Ascensão, dia da espiga, que saiu e entrou na ermida da Nossa Senhora dos Milagres, situada num monte sobranceiro ao lugar de Milheiros da Freguesia de Dois-Portos. Vários aspectos me impressionaram e incitaram a meditar e a referir neste espaço.

A ermida, erigida no século XVI localiza-se no «vértice» de uma pirâmide ou cone, levando a nossa vista a muitos Km de distância independentemente do azimute para que estejamos virados. Só isto já merecia a viagem. Mas o interior da ermida possui revestimento de azulejos de reconhecido valor artístico e bem conservados, bem como as pinturas do tecto e a capela-mor, o que demonstra uma arreigada e continuada devoção da população local e da região.

O que mais me impressionou, foi a intenção da procissão, constituída principalmente por mulheres, a maior parte de idade madura, que percorreu por caminhos pedestres rurais os campos bem visíveis lá do alto em que durante uma paragem junto à fonte que, segundo a lenda, está ligada à decisão de construir ali a ermida, o pároco prestou a sua homenagem e aspergiu água benta em direcção não apenas à fonte e às pessoas que integravam a cerimónia, mas também aos campos em geral. Gesto ecológico, de amor à Natureza, que é mãe de todas as vidas animal e vegetal.

Fiquei sensibilizado por esta homenagem à Natureza e saltou-me à memória a interrogação do Papa Francisco, durante a homilia em Fátima, se as pessoas estavam ali reunidas para agradecer e pedir pequenos favores para lhes retirar sofrimentos pontuais ou se era para manifestar respeito e homenagem e agradecer os bons conselhos e sugestões para viverem com mais civismo, bom entendimento e amizade para com os seus semelhantes.

Nunca é demais desenvolver a ética, reforçando o respeito pelos outros, sejam humanos, animais, vegetais ou minerais, isto é a Natureza em que fomos gerados e de que vivemos. Nisso se devem basear as religiões, procurando aperfeiçoar os sentimentos, as emoções, as palavras e as acções de todos e de cada racional. Infelizmente tem havido excepções de movimentos ditos religiosos, que perderam o rumo avançam nas piores direções.

Espero que não deem por mal empregue o tempo gasto nesta leitura, mas não resisti ao apelo íntimo de partilhar esta meditação que desejo contribua para melhorar a postura perante o tema.